26 Fevereiro 2016
A Apple lançou um novo comercial para promover o serviço de curadoria de playlists temáticas. A propaganda poderia ser bem elogiada por protagonizar mulheres negras, mas o executivo da Apple Music Jimmy Iovine, produtor musical e figura de longa data da indústria da música, justificou a criação do serviço na crença pessoal de que as mulheres são incompetentes na tarefa de encontrar músicas.
Segundo o próprio, em uma entrevista ao vivo na CBS News, sobre o novo serviço de curadoria da Apple Music:
Eu sempre soube que as mulheres acham muito difícil às vezes encontrar músicas. E com esta ajuda é mais fácil, com listas de reprodução, com curadoria de pessoas reais.
Bem, o que temos aqui é Jimmy, um homem, ajudando mulheres a encontrar as músicas que querem ouvir. Ele explica que sua motivação por trás da produção de um comercial brilhante da Apple Music, com Taraji P. Henson, Kerry Washington e Blige, foi para "facilitar" o processo para as mulheres.
Eu apenas encontrei um problema: as garotas estão sentadas à toa falando sobre meninos. Ou reclamando sobre os meninos, quando eles partem seus corações, ou qualquer outra coisa. E elas precisam de música pra isso, certo? É difícil encontrar a música certa. Nem todo mundo conhece um DJ.
Iovine declara esse absurdo com expressão realmente séria, ou seja, este é realmente o motivo, ou um dos motivos, para a curadoria da Apple Music. Para ele, mulheres estão ocupadas demais falando sobre homens e alguém precisa tocar as músicas certas para esses momentos em que conversam sobre corações partidos "ou qualquer outra coisa".
Tudo isso é dito enquanto está sentado ao lado de Blige, considerada a Rainha do Hip-Hop soul, que possui em seu repertório músicas com letras feministas. Kerry Washington, famosa atriz que também participa do comercial da Apple, é ativista do feminismo.
A companhia poderia ter aproveitado o seu vídeo que protagoniza apenas mulheres negras para abordar o empoderamento e independência das mulheres, ainda mais se tratando de algo tão trivial quanto... encontrar músicas. Talvez se o recado da Apple fosse algo como as mulheres dizendo que "nós podemos fazer isso, obrigada", teria conquistado mais a simpatia do público feminino.
Dinner with @maryjblige, @kerrywashington and @TherealTaraji?? Sounds like a PARTY. 🎉 https://t.co/PTC4Zk9Ul3 https://t.co/dWhwb5Jaef
— Apple Music (@AppleMusic) 19 novembro 2015
Mas o discurso de Iovine causou uma repercussão bastante negativa na mídia, e os portais em geral denunciam o machismo incutido no pensamento do executivo de que as mulheres estão ocupadas demais falando sobre homens. Será que o oposto não é mais verdadeiro? Não seriam os homens mais chorosos nas mesas de bar por causa de fins de relacionamentos e precisando de uma música adequada para isso?
O fato é que todos passam por esses momentos emocionalmente complicados. Atribuir essas ocasiões como uma característica de um gênero - no caso, o feminino - é um dos muitos pensamentos preconceituosos que as mulheres lutam para mudar na nossa sociedade. Talvez os que pensam dessa forma precisem de maior contato com o universo feminino, e assim descobririam o quão fora da realidade essa ideia está.
Após a grande repercussão que a polêmica causou, Iovine pediu desculpas em uma declaração publicada no site Billboard.
Nós criamos o Apple Music para facilitar encontrar a música ideal para todos — homens e mulheres, jovens e mais velhos. Nosso novo comercial foca em mulheres, e esse é o motivo por que eu respondi daquele jeito, mas é claro que o mesmo se aplica igualmente a homens. Eu poderia ter escolhido melhor minhas palavras, e peço desculpas.
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