20 Julho 2016
A famosa rede de navegação privada Tor lançou uma campanha que busca arrecadar fundos para manter seu trabalho de garantir o anonimato de seus usuários, a fim de diminuir seus laços com as doações do governo dos EUA.
O Tor é um serviço que direciona a conexão dos usuários com os sites por diversos proxys ao redor do mundo, o que garante o anonimato na web.
Embora o Tor Project também receba dinheiro de outras fontes, como o Reddit e o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, cerca de 90% da receita vêm do governo americano, através da National Science Foundation e do Escritório de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho.
Para anunciar o pedido de ajuda, a equipe do Tor publicou em seu blog um texto mencionando a diretora do documentário Citizenfour, Laura Poitras. O filme de Poitras descreve o seu encontro com Edward Snowden e suas revelações sobre a espionagem dos EUA.
“Sem o Tor e outras ferramentas de software livre, eu não teria sido capaz de cobrir o assunto", conta Poitras, que ganhou o Oscar de melhor documentário. E acrescentou que vê o Tor como "uma ferramenta essencial que é necessária para pessoas fazerem o que elas fazem. Que promove a liberdade de expressão e vozes independentes".
Não há nenhuma outra maneira que eu teria sido capaz de proteger a fonte inicial sem o uso de Tor … fundamentalmente, sem o Tor e outras ferramentas de software livre eu não teria sido capaz de fazer a apresentação de relatórios, e a história não teria sido revelada.
Não existe um motivo declarado para o Tor ou o governo dos EUA decidirem pela redução ou fim desse financiamento, ou qualquer outra informação do tipo. Porém, os motivos podem ser especulados. Já não são recentes as conversas de que esse tipo de dependência do governo poderia comprometer o Tor e obrigar a sua equipe a colaborar com os pedidos de agentes da lei para obterem acesso a dados, caso necessário.
Além disso, no passado a NSA tentou invadir a rede e a equipe do projeto já acusou a Universidade Carnegie Mellon de quebrar o anonimato de alguns usuários na rede. A Carnegie Mellon, por sua vez, após ser acusada de receber dinheiro do FBI para realizar esse ato, afirmou que “cumpre as regras da lei, obedece a intimações emitidas de forma lícita, e não recebe nenhum financiamento para cumpri-las”. Ou seja, não assumiu nem negou a acusação de comprometimento do anonimato dos usuários.
Por outro lado, o Tor já foi útil para crises em países de conflito de manifestantes contra governos, em ocasiões em que a internet foi bloqueada para que as notícias não chegassem a outros países por redes sociais. Em países asiáticos e do Oriente Médio, como Irã, China e Afeganistão, o governo utiliza de filtragem que impede a população de acessar conteúdos estrangeiros. Através de programas como o Tor, essa filtragem pode ser burlada, por "emprestar" ao usuário um IP de outros países.
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