31 Maio 2019
Muito tem sido discutido durante o primeiro ano da Operação Lava Jato, uma grande investigação que fez ruir o cartel de empreiteiras infiltradas na Petrobrás para fraudes em licitações bilionárias e pagamento de propinas a pelo menos 50 políticos do congresso. O que pouca gente conhece é a relação entre Deltan Martinazzo Dallagnol, procurador da República e a BlackBerry, empresa canadense de celulares e de software responsável pelo BBM.
Apesar de ter sido iniciada no 17 de abril de 2014, a operação ainda está em curso, até agora já foram propostas 24 ações, 19 delas criminais, 5 civis. Nesta segunda feira, 16, o Ministério Público Federal vai anunciar uma nova denúncia, contra ex-integrantes de uma terceira diretoria da Petrobrás – ex-dirigentes das diretorias de Abastecimento e Internacional já são réus.
Um dos ingredientes cruciais nessa investigação foram as milhares de mensagens instantâneas, que foram trocadas através do BlackBerry Messenger, ou BBM. Essas comunicações ajudaram as autoridades a fazer a ligação entre os suspeitos e seus supostos clientes, incluindo os membros da câmara e os empreiteiros.
Com a ajuda da BlackBerry, a companhia canadense responsável pelo serviço de mensagens instantâneas, os promotores foram capazes de avaliar milhares de chats no BBMS. "Esta foi uma das razões para o sucesso do processo", disse o procurador federal Deltan Dallagnol.
Muitas das mensagens eram coisas mundanas que precisaram ser analisadas com calma. As conversas incluíam piadas, citações inspiradoras e até mesmo as fotos de seus animais de estimação, no fim as conversas se mostraram úteis para as autoridades brasileiras na identificação de suspeitos e estabelecendo relações entre eles.
Um dos casos mais notáveis ocorreu entre o ex-deputado federal (PSD) Luiz Argôlo e o doleiro Alberto Youssef. Em uma série de trocas de mensagens os dois comemoram sua parceria, o empreiteiro escreveu ao vice-presidente da Câmara: “(Será) tua independência financeira. E a nossa também, claro.” A resposta: "Kkkkk.”
Argôlo não se conteve: “A gente vai dominar esse país” — teclou para Youssef, que retrucou: “Se Deus quiser, vamos sim.” O vice-líder do PSD arrematou, em despedida: “Porque somos bons.”
O caso ilustra o quão importante é a cooperação das grandes empresas internacionais de tecnologia com o governo brasileiro, especialmente no que concerne pessoas que estão sendo investigadas pela polícia federal e pelo procurador geral da República. Certamente outros serviços continuarão a prestar ajuda para as investigações, que se mantém em andamento.
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