01 Junho 2015
Há mais ou menos um ano, o menino Davi Braga de 14 anos, tem aparecido em diferentes sites da internet como empreendedor prodígio. Hoje a história voltou a circular por algumas publicações, alegando que o aplicativo criado por ele já o fez faturar cerca de 100 mil reais.
O List-it já tem cerca de 3 mil clientes ativos. O aplicativo agiliza a compra de material escolar, sem precisar ir à livraria. Basta preencher os campos com o nome do colégio e a série do aluno, que todos os itens aparecem assinalados.
"É muito simples: é uma lógica invertida de e-commerce. Onde as pessoas entram lá, já vai estar tudo selecionado, por isso a lógica invertida, então o que já tem, ela apenas desseleciona", diz o menino responsável pelo projeto.
O aplicativo funciona de forma rápida e prática levando apenas 5 minutos para que você faça uma compra que poderia levar dias. É possível escolher a capa do caderno, o tipo de borracha, entre outras coisas mais.
O dinheiro do rapaz é rigorosamente controlado pelos pais e a renda é quase toda revertida para investimentos futuros. Apesar das coisas positivas, quando os pais falam mais sobre o processo de criação do aplicativo a participação do menino parece ser cada vez menor, como se este fosse apenas uma forma de chamar atenção para o projeto.
A mãe de David, Cristiana Peixoto, 41, é dona de uma papelaria. Todo o processo começou quando suas amigas tinham dificuldade para comprar todos os itens da lista de material escolar. Raramente ela possuía todos os itens de uma lista de materiais em sua papelaria, fazendo com que Cristiana tivesse de buscar o que faltava em outras loja. Com o tempo ela começou a juntar tudo e entregar para as mães, cobrando pelo serviço, que se mostrou promissor.
Conforme a procura foi crescendo, Cristiana sugeriu que David teria falado para transformar esse processo em algo digital, mas facilmente gerenciável e acessível.
"O grande problemas das listas de material escolar é que, muitas vezes, é preciso ir a várias lojas para encontrar tudo. Muitos pais não têm tempo para isso, daí a necessidade de criar um site onde seja possível comprar tudo de um jeito simples", afirma o menino.
Com o aplicativo, uma loja parceira se torna responsável por juntar todos os itens da lista e entregar para o cliente. A loja fica com 90% do valor da venda, e os outros 10% vão para a David e seus sócios. Algumas matérias falaciosas andam dizendo que ele ganha 100 mil reais por mês o que certamente é uma mentira.Pelo site do aplicativo, ele tem apenas 8 escolas cadastradas, então se ele fica com 10% do valor da venda, ele tem que vender 1 milhão por mês através do site para ter esses supostos 100 mil de lucro, e se este valor é apenas de faturamente, ele se torna irrelevante, pois ilustra um ganho de apenas 10 mil reais, que ainda precisa retirar os gastos operacionais, e considerando que só se vende material escolar uma vez por ano, temos um negócio que não parece tão frutífero assim.
Sócios? Sim, o pai de David, João Kepler, 44, foi o investidor do negócio. Não apenas bancando o preço inicial de desenvolvimento do aplicativo, como também o vídeo promocional. Também foi Kepler quem trouxe mais três sócios para o negócio: dois programadores e um designer.
"São eles que tocam a empresa. Meu filho foi o criador da ideia e atua mais como divulgador do negócio. Ele não tem um cargo, carteira assinada ou horário fixo. A única obrigação dele é tirar boas notas na escola", afirma Kepler.
Nesta afirmação o pai deixa praticamente claro que seu filho não é exatamente um empreendedor, e sim uma forma diferente e inteligente de se vender o produto, afinal ele atua como “divulgador do negócio”. Sabemos que é uma empresa que os outros sócios são programadores e designers adultos e, mesmo assim, apenas David aparece publicamente como cérebro da equipe.
Existe ainda uma segunda informação importante sobre João Kleper. Ele não é apenas um rico empresário formado em Negócios pela Universidade de Miami, ele também é o proprietário de uma empresa chamada de "Anjos do Brasil", criada justamente para investir em negócios de pequeno porte. João Kleper utilizou sua própria empresa para financiar a "ideia" de seu filho, que como foi bem sucedida, se tornou o principal elemento de marketing da própria Anjos do Brasil. Você pode conferir o perfil do empresário em seu LinkedIn.
É bastante claro também que as falas públicas do menino são constituídas de textos ensaiados. O vídeo abaixo retrata uma das apresentações mais populares do "jovem" empresário:
Este tipo de notícia incentivando o empreendedorismo mirim sempre foi muito comum nos Estados Unidos, e parece agora que os jornais brasileiros estão tentando adotar a mesma estratégia. O objetivo vai além de incentivar este tipo de iniciativa, mas também vender o importante mito de que tudo que alguém precisa para se tornar um empresário bem sucedido é uma boa ideia e o trabalho árduo.
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