Segurança 31 Mar
Em 2014 a Uber – que lançou uma nova ferramenta de checagem de usuários no Brasil – foi processada por discriminar pessoas cegas e seus cães-guia, tendo esperado apenas dois anos para começar a mudar isso, decisão que foi acompanhada de um acordo de US$ 2,6 milhões.
Mas parece que a mudança não aconteceu, de fato, afinal de contas, a empresa está sendo condenada a pagar um adicional de US$ 1,1 (~R$ 6,2 milhões) a Lisa Irving, uma mulher cega.
Irving alega ter faltado ao trabalho, festas de aniversário, missas na véspera Natal, e ter sido deixada no escuro, na chuva e várias outras situações humilhantes simplesmente por estar junto de seu cão-guia.
Motoristas se recusaram a deixá-la entrar no veículo em 14 diferentes situações, todas ocorridas após 2016, quando a Uber já havia finalizado o acordo, ou seja, a empresa ainda permitiu que motoristas discriminassem passageiros com deficiência.
Apesar das queixas de discriminação, o juiz responsável pelo processo considerou:
Quando a Uber conduziu uma investigação, seus investigadores foram treinados, em alguns casos, para orientar os motoristas a encontrarem razões não-discriminatórias para recusar a corrida, às vezes até para 'defender' e manter os motoristas na plataforma, apesar das queixas.
Pelas situações que passou, Lisa Irving ganhou US$ 324 mil (~R$ 1,8 milhão) por danos e US$ 805.313 (~R$ 4,5 milhões) para as custas judiciais, incluindo honorários advocatícios.
Em entrevista ao Chronicle, Irving relatou lembranças que incluíam uma situação em que o motorista a apanhou com notável tom de raiva na voz, ameaçando-a deixar na estrada por causa de seu cachorro. Ela disse que foi rejeitada no app pelo menos 60 vezes.
Como experiência própria, este redator que vos fala passou por algo similar. Ao me mudar do Brasil para Portugal em 2019, recebi pelo menos 20 rejeições no app mesmo dia, isso por avisar aos motoristas que eu estava com meu gato (deixando bem claro que o mesmo possuía uma caixa de transporte).
As situações ocorreram ao me deslocar do aeroporto para o AirBNB que havia reservado, e depois, quando precisei ir ao apartamento que havia alugado. A maioria dos condutores justificava a recusa alegando "ter alergia" ao animal – muito suspeito, não acham?
Só consegui a carona após fazer um pedido sem mencionar que possuía um animal, torcendo para que a carona não fosse cancelada (para a minha sorte, o motorista nem percebeu, confundindo a caixa de transporte com uma bagagem convencional).
De qualquer forma, parece que a Uber ainda tem um longo caminho a percorrer no que diz respeito às suas políticas e instruções passadas a condutores para lidar com esse tipo de situação. O caso de Irving com certeza não foi o único, e possivelmente, esse tipo de situação continua a acontecer até nos dias de hoje.
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