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O Brasil e a crise: como o setor de tecnologia está respondendo a atual situação econômica

02 de outubro de 2015 7

Todos os dias nos deparamos com notícias acerca da crise financeira que assola o Brasil, as previsões para alguns chegam a ser apocalípticas, achando que sua tendência é apenas se agravar nos próximos anos. Apesar disso, diversas pesquisas tem apontado um percurso diferente para o mercado de Tecnologia, representando uma verdadeira oposição ao que encontramos no mercado hoje.

Do ponto de vista dos profissionais, existem um certo paradoxo: ao mesmo tempo que o mercado aqui só cresce, os salários aumentam e a oferta de empregos se mantém plena, muitos ainda desejam se mudar do Brasil. Uma pesquisa da Landing.jobs, plataforma dedicada a arranjar empregos em TI no exterior, com 570 profissionais cadastrados no Brasil mostra que eles estão de olho no mercado lá fora: 45% pensam em sair do país por causa da possibilidade de crescimento profissional no exterior. A segurança é motivo para 12%.

Claro que um site, cujo objetivo é servir como mediador entre empresas estrangeiras e profissionais brasileiros de TI apresentaria resultados como esse, por isso decidimos fazer nossa própria investigação, não apenas se baseando em pesquisas recém publicadas como também entrevistando diretamente os profissionais da área, com foco em programadores de jogos e aplicativos para celular.

Brasil segue com um crescimento exponencial no mercado de tecnologia.

A crise para os profissionais de TI

Segundo a Catho, de janeiro a junho de 2015, observamos um crescimento de 44,2% no número de vagas no setor de tecnologia. Só em junho, foram abertas 10.105 vagas, 3.640 a mais do que junho de 2014. “As empresas precisam reduzir custo, melhorar processo, gerar novas oportunidades de negócios e tecnologia hoje resolve isso”, afirma Daniel Rodrigues Costa, presidente da empresa.

Para a Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), até 2020 o setor precisará de 750 mil novos trabalhadores qualificados, o que significa que até mesmo os jovens que ainda não se decidiram por nenhuma formação podem encontrar vagas na área de TI, disputando as vagas que não exigem muitas qualificações. Para os dispostos a estudar, muitos cargos promissores prometem ser abertos ao longo dos próximos cinco anos. Atualmente, a cidade de São Paulo lidera a lista das que mais empregam, com 32% das oportunidades anunciadas, Rio de Janeiro com 9,97%, seguido de Porto Alegre (9,77%), Curitiba (4,78%) e Belo Horizonte (3,66%).

Sem dúvidas, uma das maiores demandas das grandes corporações hoje em dia é ter cada vez menos caixas e pastas. Tudo tem que estar nos computadores, é mais barato e rápido de encontrar os arquivos, velhas finanças, casos e outros tantos recursos essenciais para o funcionamento. Para alcançar esta economia de espaço, de tempo e de dinheiro muitas destas empresas estão tentando derrubar uma barreira entre elas e toda essa modernidade. É por essa razão que os profissionais da área de TI estão ganhando tanto espaço no mercado de trabalho.

Para Daniel Rodrigues Costa, presidente da Catho, “As empresas precisam reduzir custos, melhorar processos, gerar novas oportunidades de negócios e a tecnologia hoje resolve isso”. E com esse bom panorama do aumento de vagas na área, o mercado de TI brasileiro pode ficar bem acima do PIB nacional e deve terminar 2015 como o sexto setor com mais investimentos (algo estimado em torno de 10%) o que pode trazer um fôlego tanto para a economia nacional, quanto para as próprias empresas.

O Programa Brasil Mais TI, do Governo Federal, é uma das muitas oportunidades para quem se interessa pela área. São 30 cursos gratuitos de educação à distância, todos voltados para tecnologia da informação. Os interessados em participar dos mesmos podem conferir a lista de cursos disponíveis no site do programa e se inscrever também. Uma das coisas mais interessantes neste projeto é o simulador de vida nele presente, onde a pessoa coloca as pretensões de salário e padrão de vida e descobre quais as ocupações dentro do TI pode escolher para atingir essa metas.

Vale lembrar que para trabalhar com TI, não é preciso ter uma formação especifica, ainda que ela ajude. A maioria das empresas afirma que um bom profissional é aquele que sempre busca por mais conhecimento e tem algumas habilidades necessárias a área: ser curioso, gostar de lógica e processos, ter organização e investir em desenvolvimento e suporte.

Em 2015, dentro do mercado de tecnologia, as áreas mais procuradas são desenvolvimento de sistema (análise e programação), infraestrutura (suporte e funcionamento das redes e dispositivos) e comercial em TI (vendas e marketing).

Alunos da Proine em sala de aula

Empreendedorismo

Um dos pontos mais fortes da área de TI é o seu potencial no campo do empreendedorismo, algumas das principais encubadoras de projetos do país afirmam que de cada 10 projetos que chegam, oito são na área de TI. Este é o caso da Proine, uma incubadora ligada à Universidade Federal de Goiás, onde quase todos os participantes atuam no desenvolvimento de apps e outroas soluções em TI.

Para ser selecionado em uma vaga da Proine, é preciso passar por uma extenso processo, ter um projeto muito bacana e dinheiro para investir. Uma vez lá dentro, eles aprendem um pouco de gestão, marketing e finanças. Os jovens ficam no local por, no máximo, três anos e depois que aprendem a andar com as próprias pernas, deixam a incubadora e montam seus próprios negócios.

Outro fenômeno do empreendedorismo moderno são as startups, que também tem as áreas tecnológicas como seu maior destaque. “Uma startup é uma empresa que tá começando, que normalmente está testando uma ideia nova em um mercado que tem bastante potencial de crescimento. Ela é uma empresa que tem poucas pessoas, enxuta, com um custo muito baixo no início, porque ela ainda está testando a ideia e, neste momento, normalmente ela não ganha dinheiro”, explica André Diamand, presidente da Associação Brasileira de Startups.

Claro que em essência, este não é um caminho simples. Segundo diversas pesquisas uma em cada quatro startups morre antes de completar um ano. “Normalmente, uma startup surge de uma grande dor, de uma grande necessidade, de uma grande vontade. Para ser resolvida, ela recebe dentro dessa situação uma grande ideia, que seria a solução para este problema e, a partir daí, segue o processo normal da startup, que é testar. Não funcionou, testa de novo, é sempre aprendendo com essas falhas”, afirma André.

O fato é, este mercado em franca ascensão tem na criatividade a sua principal força motriz, o que vemos são milhares de pessoas comprometidas na resolução de problemas e na tentativa de se criar um mundo mais simples e descomplicado. Em Campinas, no interior de São Paulo, uma empresa está contratando funcionários para criarem, simples assim. Eles criaram um espaço chamado de garagem. Os funcionários podem inventar produtos como um que ajudou a reduzir a conta de luz, em R$ 18 mil por ano.

Profissionais de TI tem índices baixos de desemprego, mas são afetados por altas taxas de rotatividade.

Fatores negativos da crise para a TI

Claro que nem tudo são flores, uma crise financeira sempre vai gerar também diferentes problemas que devem ser enfrentados. Uma das coisas que foram apontadas este ano foi o aumento da rotatividade nas empresas do setor. Segundo o censo anual do mercado de Tecnologia da Informação, que é feito pela Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro Nacional), a rotatividade no mercado de trabalho do setor é maior no Brasil que a média da América Latina.

Segundo esta pesquisa, cada empresa brasileira de TI contratou 33 e demitiu 31 profissionais ao longo do ano, um saldo positivo para o mercado, mas preocupante para quem quer construir uma carreira longa e progredir dentro de uma só empresa.

“A crise econômica e até mesmo a escassez de mão-de-obra qualificada explicam essa alta rotatividade e a dificuldade das empresas brasileiras em segurarem os funcionários”, diz o presidente da Assespro Nacional, Jeovani Salomão.

Ainda de acordo com o censo de 2014, 62,2% dos empresários entrevistados empregaram, no máximo, oito profissionais. Já 58,7% das companhias registraram até oito desligamentos voluntários e 52,3% acabaram demitindo o mesmo número de funcionários.

A alta do dólar também traz algumas consequências negativas, como o encarecimento dos “materiais” de trabalho, que sofrem mais ainda com preços caros por causa da discrepância da moeda. É isso que afirma Davi Paladini, mestrando na área TI pelo Inmetro: “alta impactará diretamente nos custos de infraestrutura, fazendo os orçamentos ficarem reduzidos. Além disso, o capital estrangeiro foge do Brasil com essa alta volatilidade do dólar, pois investir em projetos de software, que apresentam resultados em médio/longo prazo passam a ter riscos altos demais. A alta do dólar pode apresentar uma redução no custo da mão-de-obra brasileira no cenário internacional, porém o medo da volatilidade não tornará isso num fator positivo.”

Profissionais de TI estão entre os mais diversificados do mercado, e cada vez mais se distanciam de estereótipos como Nedry de Jurassic Park do início da década de 90.

A opinião dos profissionais da área

O Tudocelular fez questão de entrevistar diferentes profissionais da área de tecnologia para saber a opinião dos mesmos sobre como o setor tem lidado com a crise financeira, e que tipo de perspectivas eles têm para o momento. As respostas variaram muito, mas no geral, os profissionais tem se mostrado otimistas, apresentado cenários que parecem casar com as pesquisas previamente realizadas.

Para Renato Biancalana, analista de desenvolvimento e infraestrutura, o setor de tecnologia “é uma área em franca ascensão. É curioso reparar que foi o único mercado que não foi afetado nem pela nossa crise interna nem pela crise externa. Apesar de toda a crise, as empresas brasileiras sempre foram um pouco mais atrasadas em relação à tecnologia, e começaram a perceber que compensar esse atraso entrando na internet e na tecnologia pode ajudar e MUITO a atravessar a crise, então cada centavo que eles têm para investir está indo para o setor de tecnologia.”

Janos Simas, atualmente trabalhando como desenvolvedor e programador da Funcate (Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia), compartilhou sua experiência como desempregado no setor nos meses recentes da crise: “Fui demitido recentemente, e nas pesquisas que fiz, encontrei muitas ofertas tanto de empregos quanto de mão-de-obra. O principal problema parece ser que existem muitos postos de baixa remuneração para programadores de baixa qualificação. Com a minha formação, não tive dificuldades de encontrar um bom emprego.”

A alta do dólar também foi bem recebida por alguns profissionais, como foi o caso de Renato, que acredita a taxa de câmbio é muito benéfica, especialmente para quem lida com freelas e consegue vender seus projetos para clientes no exterior. Para ele, a alta pode ser boa também porque os produtos brasileiros poderão tem um preço muito mais atrativo em dólar, afirmando que profissionais que já tinham uma base de clientes consolidada, cobrando o mesmo preço estão faturando muito mais.

A Lenda do Herói, um dos mais esperados jogos brasileiros, criado pela galera do Dumativa.

Os desenvolvedores de jogos

Atualmente no Brasil, 32% dos usuários de smartphone têm nos games o seu principal fator de atração. A mesma pesquisa, indica que o Brasil espera aumentar em até 50% o número de celulares no país até 2017, indo dos 49 milhões atuais para 72 milhões, mostrando que este mercado está funcionando a pleno vapor e desenvolvimento.

Ainda que a maioria dos nossos entrevistados acredite que o setor ainda esteja começando no Brasil, quase todos parecem estar empolgados com as possibilidades nesta área. Rafael Bringel, Lead Programmer e GameDesigner na Dumativa, fala um pouco sobre esse crescimento:

“A médio prazo a maior mudança foi a inclusão de quase 60 milhões de brasileiros no mercado de jogos por conta da popularização dos Smartphones. No curto prazo é a questão da facilidade de produção para esses meios, hoje é muito mais barato produzir para celular em termos de custo de equipamento e licenciamento, apesar de produzir jogo pra celular (que seja rentável) exige bastante tempo e experiência. O mercado de jogos ainda é experimental, nem todo jogo que funciona nos consoles funcionam no celular e vice-versa, isso facilita a gente poder inovar.”

Rafael é um daqueles que não desejam deixar o país no momento, talvez até mesmo pelo tamanho da comoção gerada por "A Lenda do Herói" que tem recebido um apoio importante do público local. Segundo ele, o Brasil é o 11º mercado consumidor de games e só aumenta o número de seus jogadores. Apesar de criticar a baixa injeção de capital no setor, a qual dificulta a competição, ele acredita que o volume de mercado é grande o suficiente para compensar esta defasagem, além disso, para ele, como desenvolvedor, é muito mais fácil falar com o brasileiro do que com o público internacional. Certamente isto não inviabiliza seus planos de exportar o que ele produz aqui; ele enxerga os mercados da Coréia do Sul, dos países do Mar do Norte e da Rússia como excelentes oportunidades de se fazer negócio.

No caso do paulista Eric Akira, que trabalha como designer de games que tem criado jogos em html5 para licenciamento, o mercado brasileiro de tecnologia está em uma fase "adolescente".

“Não somos mais crianças inexperientes, mas ainda não temos a maturidade de um adulto e, também, temos um lado inconsequente e um lado questionador. Neste sentido, acredito que as decisões feitas dentro do mercado nos próximos 5 à 10 anos serão fundamentais para estabelecer uma identidade para o mercado de tecnologia brasileiro.”

Falando especificamente em aplicativos e jogos para dispositivos móveis, Akira afirma que muitas pessoas têm conseguido um espaço, mesmo que pequeno, para seus produtos que antes não tinham nenhum tipo de visibilidade. Para ele, a popularização dos dispositivos móveis, principalmente os smartphones, e da internet no Brasil criou uma oportunidade gigantesca para quem consegue trabalhar com os "pincéis da arte contemporânea".

“Para mim o que realmente mudou no Brasil foi essa explosão de demanda por conteúdo digital, que aliados a disseminação globalizada de informação e aprendizado relativos à area de tecnologia, criou um ecossistema em que quase qualquer pessoa pode criar um app/game.”

Apesar dos depoimentos positivos, nem todos concordam com esta visão do mercado brasileiro, como é o caso de Davi Paladini. Para ele o país ainda engatinha nessa área. Apesar de bons projetos, existe um grande vazio na área de pesquisa.

“Tenho amigos atuando na área de gamificação de atividades cotidianas. Eles têm ótimos projetos, porém falta incentivo para o empreendedor. Hoje, viver no Brasil, e principalmente no Rio de Janeiro, está muito caro. Além disso, o mercado está retraído. As pessoas estão topando qualquer coisa para pagar as contas, o que as faz abrir mão de atuar em áreas que podiam ser mais interessantes.”

Para pessoas como ele, a solução é deixar o país para explorar outros mercados:

“Já tive experiência trabalhando fora do Brasil e meu projeto pessoal sair daqui assim que terminar o mestrado. Meu objetivo atual é a Irlanda, por ter identificação com a cultura e pelo mercado de trabalho na área de TI estar crescendo e com bons salários em Euro. A Irlanda foi considerada o "Tigre Celta" no começo dos anos 2000 e decaiu muito com a crise econômica de 2008. Contudo vem apresentando novamente um boom no mercado de TI.”

Autoria de Felipe Velloso


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Comentários

O Brasil e a crise: como o setor de tecnologia está respondendo a atual situação econômica
  • Os "materiais de trabalho" realmente aumentaram muito ultimamente. Um Core i5 já está custando mais que um Core i7 anos atrás; um Core i3 está custando o mesmo que um Core i5 anos atrás; um Pentium já está custando o mesmo que um Core i3 anos atrás.
    Só quero ver os preços dos processadores da 6ª geração, quando chegarem ao Brasil no próximo ano, provavelmente uma facada...

      • Eu sou Consultor SAP, no mercado SAP continua com vagas parece q não tem crise, mas as consultorias estão querendo encolher a taxa hora, Sr que ganharia 100 a hora estão querendo pagar de 60 a 90 a maioria das vagas, 60 é uma grande queda, um pleno ganha mais que isto.Quem tem vaga com taxa hora boa, tem que se segurar..

        • Só pelo título da chamada, já dá para perceber que é um texto do Felipe Velloso. Sempre ótimos textos.

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