Android 30 Set
Nos últimos anos o sistema de saúde brasileiro tem passado por diversas situações controversas que vão além das dificuldades geradas pela falta de investimento. Acontece que diversas pessoas engajaram em campanhas para influenciar pais a evitarem o uso de vacina em seus filhos e neles mesmo, alegando que o uso de tal componente químico, que tem por objetivo prevenir de doenças, na verdade não tinha nenhum tipo de efeito por conta da falta de "maturidade" do sistema imunológico da criança, que, segundo os engajadores da causa, só se fortalece a partir dos 2 anos de idade, época em que mais da metade das injeções obrigatórias contidas no cartão já devem ter sido aplicadas.
Porém, tal atitude fez com que diversas doenças que estavam em controle total voltassem a ser parte do cotidiano da população brasileira. Um exemplo disso é a Coqueluche, cujo aumento no número de casos foi de 135% entre 2011 e 2015, significando que, possivelmente, essas pessoas afetadas tomaram a vacina que previne esta doença. Outro caso mais recente e que ainda estampa a capa de diversos jornais é sobre o Sarampo, que já possui 5,4 mil casos registrados, incluindo 6 óbitos. Essa situação fez com que o Brasil perdesse o certificado de país livre do sarampo, após mais de 20 anos com controle da doença.
Mesmo sabendo que existe um movimento contra vacinação, muitas vezes são compartilhadas na internet notícias a respeito de efeitos colaterais de injeções com o intuito de afastar as pessoas desse método científico criado para reduzir os riscos de morte por problemas evitáveis na população. Entretanto, esse tipo de fake news não são novidade no Brasil e nem tem como origem os grupos nas redes sociais ou sites de notícias de origem duvidosa, mas a nossa nação já enfrentou outras epidemias como consequência da propagação de mentiras.
A quantidade de notícias sobre esse tipo de assunto no século 19 causou tantos problemas no Brasil que o Senado Federal resolveu divulgar uma parte do acervo histórico no qual estão presentes alguns casos que mostraram o poder que uma notícia falsa tem sob a administração de uma nação em períodos de campanhas de vacinação. Obviamente que essas informações não têm só o intuito de mostrar o histórico desse tipo de mentira noticiada, mas conscientizar os brasileiros a tomarem a melhor decisão em relação aos casos de doenças evitáveis que estão se propagando.
Esta foi uma das primeiras doenças a ser alvo de campanhas antivacinas e fake news durante o século 19, pois a aplicação de vacinas para prevenção de doenças era algo novo no país e no mundo, influenciando diretamente na forma como o povo reagiu quando os imperadores dom João VI, dom Pedro I e dom Pedro II resolveram proteger a população da Varíola, que hoje está erradicada do mundo.
De acordo com as informações do acervo, os três imperadores tentaram realizar esta distribuição de injeções para todos gratuitamente, porém o povo fugia e isso só contribuía para a amplificação das epidemias, afetando diversas pessoas por todo Brasil.
"Em Santa Catarina, têm morrido para cima de 2 mil pessoas. Eu estabeleci ali a vacina, deixando-a encarregada a um cirurgião hábil, mas quase ninguém compareceu. Os povos estão no erro de que a vacina não faz efeito. Quando o interesse público não se identifica com o interesse particular, nada se consegue", discursou em 1826 o senador João Rodrigues de Carvalho (CE), citando a província da qual fora presidente (governador).
Apesar de não ser uma doença letal, no que diz respeito a sua gravidade em relação à quantidade de afetados, a varíola lesionava drasticamente o corpo de quem era infectado, criando bolhas grandes (também chamadas de bexigas) que, depois de estourarem, faziam com que o corpo dos "bexiguentos" ficasse coberto de feridas que, mesmo após a cicatrização, deixavam deformidades irreparáveis nessas pessoas.
Quase no final do século 18 (1796), na Inglaterra, o médico Edward Jenner observou que no interior do país inglês os camponeses tinham contato com uma versão da Varíola Bovina ao ordenharem vacas acabavam não sendo infectados pela doença que estava se propagando entre os humanos. Apesar de não ter nenhum tipo de efeito colateral nos animais, o doutor quis saber mais a fundo o porquê dessas pessoas criarem uma imunização sem nenhum tipo de remédio.
Para tal Edward coletou o pus presente nas bolhas existentes na teta de algumas vacas para analisar se esta observação fazia sentido. Após alguns testes, ele percebeu que realmente havia uma proteção dentro daquele fluido espesso, levando-o a criação da primeira versão do líquido denominado de "vacina", que tem como variação a palavra latina vacca. Esta foi a primeira doença a ter algum tipo de imunização no mundo, e tal situação se estendeu por um bom tempo.
Porém, ao saberem como era desenvolvido este líquido, muita confusão foi gerada, até mesmo criando rumores de que tal tratamento gerava algum tipo de mutação nos seres humanos que os levava a se tornarem pessoas com características de vacas. Tal informação chegou ao Brasil, dificultando amplamente a aplicação do tratamento, onde pessoas se trancavam em suas residências, escondiam os filhos embaixo de camas e até mesmo fugiam de suas cidades.
A desinformação era algo que afetava até mesmo a cúpula do país, levando a uma divisão de opiniões e prejudicando diretamente a proteção da população durante a epidemia de Varíola. Entretanto, em pleno século 21, ainda vemos o quanto essas notícias falsas podem influenciar na opinião das pessoas em relação aos cuidados com uma doença que possui baixo risco de óbito quando tratada, fortificando, mais uma vez, a importância de verificar a fonte de notícias quando relatos antivacina são divulgados.
E aí, caro leitor, você já se viu influenciado por alguma notícia falsa sobre o tema? Se sim, diga para a gente nos comentários. Além disso, é importante informar que o Brasil está em período de campanha de vacinação contra o Sarampo, então não deixe de comparecer ao posto de saúde mais próximo da sua residência para se proteger.
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