Apple 03 Jul
Chico Xavier é uma figura que gera bastante debate. Morto há 15 anos, o espírita deixou nada menos que 412 obras para a posteridade. Mas sempre negou a autoria dos textos. “Não sou autor de nenhuma dessas obras”, garantia.
De acordo com ele, esses livros foram todos psicografados. Chico Xavier era um médium, e os espíritos ditavam as obras para ele. Pelo menos é o que ele dizia. E muita gente acredita nisso.
Se você está estranhando um texto sobre Chico Xavier em um site de tecnologia, calma. Existe uma razão totalmente plausível para a gente falar em um médium aqui hoje. A culpa é da inteligência artificial.
Um grupo de pesquisadores pegou obras do médium para serem analisadas pela IA, de modo a tentar descobrir se, de fato, foram criadas por pessoas diferentes. Para isso, foi realizada uma análise do estilo, com o auxílio do aprendizado da máquina.
A ideia é da empresa Stilingue. Para simplificar, os pesquisadores pegaram um grande volume de textos de três dos principais autores psicografados por Xavier e deixaram a máquina aprender com o estilo de cada um para reproduzir obras parecidas.
Isso já foi feito antes com Shakespeare. Um computador “leu” milhões de caracteres das obras do dramaturgo inglês e criou outros textos copiando seu estilo. Os tempos verbais e até a mania de inventar novas palavras com finais diferentes foram reproduzidos. Porém, claro, nem toda frase fazia sentido.
Os três autores escolhidos para avaliar as obras psicografas por Chico Xavier foram Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos. A máquina “leu” três livros de cada um (pois são necessários milhões de caracteres para um estilo ser imitado) e produziu novas obras a partir deles. O resultado?
Os três bots conseguiram copiar os estilos de cada autor com bom nível de precisão. O bot de Emmanuel foi o que teve o melhor resultado, com índice de apenas 5% de erros. André Luiz teve 22% e Humberto de Campos ficou com 32% de incorreções. Mas a análise estava apenas começando.
Para saber se cada um tinha um estilo próprio e bem diferente do outro, os pesquisadores misturaram as obras para os bots. Apresentaram um livro de Humberto para o de Emmanuel escrever uma obra, e pediram para o de Humberto imitar André Luiz e por aí vai. As taxas de erro dispararam.
O que indica que, sim, cada autor tinha um estilo próprio e bem diferente dos outros. Mas ainda não prova, necessariamente, que as obras foram ditadas por espíritos, claro. Ainda há algumas questões para se avaliar. Por exemplo, um mesmo autor não escreve textos com o mesmíssimo estilo durante toda a sua vida.
Fizemos um teste com o Paulo Coelho justamente para testar um único autor com diferentes livros e muitos textos. A taxa de erro aumenta – mas mesmo assim continua baixa – explicou Milton Stiilpen Jr., fundador da Stilingue
Com diferentes obras, escritas em diferentes períodos e com assuntos e estilos levemente distintos, a inteligência artificial conseguiu imitar o estilo do ‘Mago’ com apenas 10% de taxa de erro.
Ainda não dá para dizer com certeza. Na realidade, provavelmente isto nunca será possível. É uma questão de fé e assim deve permanecer por muito tempo. Mas os pesquisadores ainda não desistiram. Eles estão tentando verificar os resultados utilizando Fernando Pessoa, autor português que criou heterônimos conscientemente.
“Faltou quantidade de dados suficiente para atender essa técnica”, lamentou Stiilpen, que ainda não desistiu. A análise deve virar um projeto de pesquisa oficial. Além de procurarem mais obras dos heterônimos de Pessoa para digitalizar, Nelson Rodrigues também deve entrar na dança.
Quanto a Chiico Xavier, como já falamos, a psicografia segue como uma questão de fé. Mas ficou comprovado que, no mínimo, ele era um gênio. Seus diferentes autores tinham estilos e personas uniformes, mas bem diferentes entre si. E o volume de obras por ele escrito com essa consistência é impressionante, sobrenatural ou não.
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