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RefiningHeaven
Antissionismo, antissemitismo e antijudaísmo
Ouve-se falar constantemente em um aumento do "antissemitismo" ao redor do mundo (inclusive no Brasil). Fala-se nisso quase como se fosse um fenômeno "misterioso", sem causa. Os goyim, irracionais como de costume, subitamente decidiram odiar os judeus ainda mais, talvez em algum tipo de "sincronia" com os "terroristas" palestinos.
Para além da correlação óbvia entre as atrocidades sionistas e o aumento desse suposto "antissemitismo" - naturalmente negada tribalisticamente pelos porta-vozes internacionais de Israel, entre sayanim e shabbo goyim - me parece necessário refletir sobre a razoabilidade de se falar em "antissemitismo" para abordar esse fenômeno.
A noção de "antissemitismo", o racismo específico contra judeus, se depara com um problema muito óbvio e imediato, ainda mais por causa do seu uso costumeiro: os judeus não são os únicos semitas do mundo.
Ao contrário, a família etnolinguística dos semitas abriga, também, os árabes em suas muitas etnias, como macroetnia contemporânea principal, não se podendo esquecer que etíopes e eritreus são basicamente mestiços entre africanos subsaarianos e semitas (e a maioria deles fala uma língua semítica).
Historicamente, ainda, poderíamos falar em uma miríade de etnias antigas de origem semítica, dos acadianos aos amorreus, passando por caldeus, fenícios e arameus, entre vários outros.
Por quê, portanto, tornar o "antissemitismo" algo exclusivo dos judeus? Não seria essa uma forma de racismo na medida em que apaga, anula, aniquila os outros povos semíticos, ao dar um caráter de exclusividade ao ódio aos judeus?
Esse tema estando superado, também nem entrarei nas dúvidas razoáveis e bem fundamentadas sobre os judeus contemporâneos serem realmente descendentes dos antigos hebreus. Tudo indica que o são apenas parcialmente, e que eles também absorveram contribuições genéticas de outros povos, tanto entre os europeus como entre os túrquicos (caso emblemático sendo o dos cázaros).
Isso, naturalmente, deslegitima ainda mais a possibilidade de se falar em "antissemitismo" no caso em questão. Antissemitismo é o que é praticado pelos sionistas contra os palestinos; estes sim muito mais semíticos do que os judeus israelenses contemporâneos.
No que concerne o antissionismo a questão é ainda mais tosca. Para quem não sabe, Israel paga influenciadores e comentaristas para que façam lóbi no exterior com a finalidade de tentar convencer as opiniões públicas a tratar o antissionismo como antissemitismo (no sentido de ódio aos judeus).
Trata-se de uma falsificação conceitual surpreendente.
Ora, o antissionismo não é senão a oposição ao projeto político sionista vigente em Israel, que prossegue hoje em dia e que aponta para o expansionismo territorial até às fronteiras da Erez Yisrael, para a destruição de Al-Aqsa, para a restauração do Templo de Jerusalém e para a constituição de Israel como Estado-apartheid voltado contra outros povos.
Em que medida qualquer um desses aspectos poderia ser considerado como "ódio aos judeus"? A única maneira de interpretá-lo dessa forma seria por uma leitura megalomaníaca da realidade, na qual toda e qualquer oposição aos projetos da elite sionista seria reinterpretada pseudo-espiritualmente como oposição a um desígnio messiânico do "povo eleito".
Mesmo em um sentido mais profundo, como oposição à existência do Estado de Israel não se pode falar em "ódio aos judeus". Israel é um Estado, não um povo. Ser contra a existência de Israel é uma bagatela, uma posição trivial e nem um pouco polêmica, apesar de não ser esse o meu posicionamento.
Israel não tem o "direito" de existir, tal como nenhum outro país tem qualquer "direito" à existência. Nem Israel, nem os EUA, nem a França, nem a Rússia, nem a China, nem mesmo o Brasil tem "direito" a existir. Os Estados existem por circunstâncias históricas e podem deixar de existir pelas circunstâncias históricas, especialmente quando os Estados abusam das prerrogativas da soberania estatal. Nem toda etnia precisa ou deveria ter o próprio Estado. Há Estados multiétnicos e etnias espalhadas entre vários Estados.
E mesmo em um sentido mais amplo, na medida em que existem lóbis internacionais cuja função é influenciar governos e sociedades em direções convenientes para Israel e suas elites - de modo que podemos falar em um lóbi sionista - por quê seria sintoma de "ódio" criticar a atuação desse lóbi?
Afinal, quando a AIPAC financia candidaturas nos EUA e os candidatos eleitos com a ajuda da AIPAC defendem os interesses sionistas abertamente, isso não pode ser criticado? Quando o lóbi sionista influencia a mídia, para que ela dê uma cobertura favorável a Israel, isso não pode ser criticado?
Nesse sentido, de que forma o antissionismo poderia ser equiparado a "ódio aos judeus"? A conta não fecha.
Poderíamos, ainda, apontar para o fato de que mesmo o Judaísmo enquanto religião pode ser legitimamente criticado, tal como pode-se fazer com o Cristianismo e o Islã, nos contornos da liberdade de expressão, desde que essa crítica com enfoque religioso não vise a incitação à violência ou à discriminação objetiva.
Podemos, por exemplo, rechaçar a teologia dos judeus como "povo eleito", criticar a leitura que eles fazem de outros povos e outras religiões, bem como o seu messianismo que aponta para a submissão de todos os povos. Tal como podemos fazer em relação a todas as outras teologias.
Nada disso tem como ser enquadrado como ódio ou racismo.
Em suma, toda a narrativa do "antissemitismo" é falaciosa, carente de fundamentos.
O ódio aos judeus é injustificável, como toda forma de racismo mas nem tudo que causa o ranger de dentes de instituições internacionais que dizem falar em nome dos judeus pode ser considerado racismo ou ódio.