Tech 10 Mar
Ghostwire: Tokyo é um dos últimos jogos da Bethesda a ser lançado em um console PlayStation com exclusividade temporária, já que atualmente, o estúdio pertence à Microsoft e seus futuros jogos devem ser, majoritariamente, exclusivos do Xbox.
Anunciado na E3 de 2019, o título é desenvolvido pelo Tango Gameworks, estúdio fundado pelo lendário Shinki Mikami, um dos criadores da franquia Resident Evil. Conhecido pela franquia The Evil Within, o Tango agora se aventura em uma propriedade intelectual totalmente nova, mas será que eles conseguirão manter seu padrão de excelência e originalidade?
A resposta para estas e outras perguntas você confere em nosso review, que como sempre, é sem spoilers!
Na E3 de 2019, a carismática Ikumi Nakamura, diretora criativa do jogo, subiu ao palco da exposição para nos dar o primeiro vislumbre de Ghostwire: Tokyo.
Nas palavras dela, essa propriedade totalmente nova nos levaria para um mundo assustador e cheio de mistérios, onde teríamos a chance de conhecer mais da cultura e mitologia japonesa. O trailer de apresentação foi extremamente bem recebido e muitos ficaram empolgados com o jogo, ainda mais considerando o histórico do estúdio Tango Gameworks.
Infelizmente, algo deve ter acontecido no meio do projeto, já que Nakamura decidiu deixar o Tango e fundou seu próprio estúdio. Além disso, os imprevistos da pandemia também acabaram resultando em um adiamento do lançamento, mas no próximo dia 25 de março, o jogo finalmente chegará às lojas.
Como ficou claro nos trailers e apresentações do jogo, um dos grandes destaques é a exploração do folclore japonês e o uso das lendas para criar a atmosfera da narrativa. O próprio vilão principal é chamado de Hannya, em referência aos demônios nascidos dos sentimentos confusos dos humanos.
Na trama, vivemos na pele do jovem Akito, que após sofrer um acidente misterioso, é incorporado por um caçador de fantasmas chamado KK, que lhe explica o que está acontecendo e lhe concede seus poderes para enfrentar os fantasmas horripilantes do jogo.
Na cidade de Shibuya, praticamente todas as pessoas foram evaporadas, restando apenas suas roupas e espíritos. Após isso, Hannya começa a repopular a cidade com espíritos errantes e vingativos, que começam a se alimentar dos espíritos dos humanos desintegrados.
Agora, cabe a Akito e KK enfrentar esse vilão e tentar restaurar a população enquanto enfrentam as ameaças sobrenaturais espalhadas pela cidade. Ao longo de sua jornada, você será apresentado à uma série de lendas e superstições, além de ser submergido completamente na cultura nipônica, seja pelas músicas, vestimentas ou até mesmo as comidas.
É curioso, pois por mais que a cidade esteja vazia, ainda é possível sentir a cultura japonesa exalando pelos comércios, casas e tudo o mais que cerca o jovem Akito.
Embora a atmosfera geral seja bem rica e construída, os inimigos acabam sendo um pouco rasos e repetitivos, com alguns raros destaques. No geral, você se verá enfrentando vários "Slender Man" e uniformes escolares sem um corpo dentro.
Se você cresceu acompanhando o desenho As Aventuras de Jackie Chan, com certeza vai se lembrar do Tio de Jack, o senhor ranzinza que era um exímio feiticeiro e que sempre ajudava seus sobrinhos a fugirem das piores enrascadas causadas pelas buscas dos talismãs mágicos.
Sempre recitando seu icônico mantra, "o tio" tinha um leque imenso de feitiços para resolver as mais variadas situações. Em Ghostwire: Tokyo, podemos dizer que KK é extremamente similar ao personagem da série animada.
Além de suas tecelagens, que controlam elementos como ar, fogo e água, KK também conta com um verdadeiro arsenal de itens mágicos para conjurar encantamentos, aprisionar e derrotar seus inimigos. Seja pelos selos que imobilizam temporariamente os fantasmas ou seu arco que dispara flechas de energia, o decorrer do jogo vai mostrando que sempre existem novas formas de enfrentar essas ameaças.
Fora o claro propósito de aumentar a variação nos combates, isso também complementa a narrativa folclórica e fantasiosa na qual o jogo se propõe, já que muitos contos mitológicos mostram os japoneses como exímios feiticeiros, o que é bem legal de se ver na prática.
Um dos maiores problemas do jogo é que ao invés de se aprofundar e expandir mais essas magias, o estúdio prefere apostar na quebra de clima com o repetido movimento de remover temporariamente as habilidades do protagonista, forçando-nos a usar a furtividade e a "criatividade" para derrotar ou fugir dos inimigos.
Isso certamente é uma pena, já que Akito é apenas um humano comum e sem muita graça ou qualquer habilidade especial, sendo apenas um artifício dos desenvolvedores para dizer que existe mais de uma forma de se jogar.
Seguindo uma recente tradição dos consoles da atual geração, Ghostwire: Tokyo conta com diversos modos gráficos no PS5 e o jogo conta com nada menos do que seis modos diferentes.
Apesar de ter jogado no modo Qualidade, que é o definido por padrão, onde temos 30fps e ray tracing ativado, particularmente acho um exagero essa quantidade de opções gráficas, sendo que tudo poderia ser mais simples caso a Sony já tivesse implementado o VRR no seu console. No fim das contas, acaba sendo apenas um preciosismo dos desenvolvedores e poucos se darão ao trabalho de explorar tantas opções.
Em muitos aspectos, o jogo é bonito e realista, mas alguns pontos acabam ficando "fora da curva" e quebrando a ideia que o estúdio pretendia passar. Embora seja aceitável o visual mais bizarro e cartunesco nos inimigos fantasmagóricos, tive que torcer o nariz quando a câmera deu um close no olho do Akito e o personagem apresentou cílios que pareciam de plástico, ou quando estava explorando um banheiro e os espelhos sequer mostravam meu reflexo, mesmo que isso tenha sido mostrado em uma cutscene.
São detalhes simples, mas que teriam deixado o resultado final mais atraente.
Embora seja praticamente impossível termos um jogo com as funções do DualSense tão refinadas quanto as da demonstração Astro's Playroom, Ghostwire: Tokyo faz um bom trabalho em usar os recursos do controle, principalmente quando se joga sem fones de ouvido.
Uma das maiores reclamações na geração passada era o fato de poucas desenvolvedoras usarem os falantes do controle do PS4. Ghostwire: Tokyo faz bom uso desse recurso e complementa as funções táteis do DualSense, seja para indicar a presença de um inimigo ou para externar a voz ecoante de KK em sua cabeça. No geral, o uso do acessório é competente e divertido.
Apesar de tentar apostar em algumas ideias inovadoras e de se apegar bastante à cultura japonesa, Ghostwire: Tokyo acaba sendo um jogo genérico para os padrões atuais.
Em muitos momentos, senti como se já tivesse visto aquilo em outro lugar e ao contrário do aclamado Deathloop do ano passado, o jogo não conseguiu surpreender, ainda mais como o possivelmente último exclusivo temporário da Bethesda em um console da Sony.
No geral, a sensação é a de que temos um apanhado de boas ideias de outros jogos que são condensadas em uma roupagem nipônica com alguns leves toques de inovação. Considerando que o jogo deveria ser originalmente o terceiro capítulo da saga The Evil Within, isso talvez explique a familiaridade com outros jogos, mesmo que ele tente se destacar por si só.
Além disso, até mesmo alguns dos elementos criados para o jogo acabam sendo um pouco problemáticos e irritantes, tais como os espíritos voadores que servem de ponto de translocação para Akito. Como eles ficam espalhados pela cidade e ao alcance de seu gancho, acabam emitindo sons irritantes e constantes, que te confundem durante a exploração.
Por falar na exploração, ela certamente é um ponto positivo, com uma cidade detalhada em um mapa vasto, mas por atender a proposta do jogo, onde todos os humanos foram dizimados, tudo fica pacato de mais às vezes, sem contar o clima e a atmosfera sombria, que acabam cansando depois de um tempo jogando.
A sensação é de que esse era um jogo cheio de boas intenções, mas o resultado final acabou não conseguindo traduzi-las corretamente.
A atmosfera criada pelo jogo e seus personagens principais ajudam a deixar o mistério mais interessante.
Parecendo um "apanhadão" de mecânicas de outros jogos, o título não consegue impressionar tanto.
Alguns detalhes acabam quebrando a atmosfera realista que o título se propõe.
Alguns efeitos sonoros acabam sendo um pouco irritantes e quebram a atmosfera da exploração.
Ghostwire: Tokyo se perde no meio do caminho entre ser um jogo assustador ou inovador, não conseguindo cumprir com excelência nem um, nem outro.
Depois de um ótimo teaser de apresentação, o resultado final fica aquém das expectativas.
* Gostaríamos de agradecer à Bethesda e FD Comunicação por terem nos cedido uma cópia do jogo para análise no PS5.
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