Tech 30 Jun
O Brasil é um dos países que buscam soluções próprias de imunização contra o coronavírus. O Butantan trabalha em uma vacina única eficaz contra a gripe e a Covid-19, ao mesmo tempo que uma vacina de aplicação intranasal em forma de spray é desenvolvida por universidades brasileiras. Essas tecnologias, por outro lado, enfrentam a falta de incentivo.
Dawidson Assis Gomes, professor de bioquímica no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alerta para a ausência de investimentos no setor brasileiro, revelando que trabalha no imunizante em spray via nasal apenas com os investimentos do próprio Departamento de Bioquímica e Imunologia.
“A principal dificuldade para o desenvolvimento da nossa vacina tem sido a falta de recursos para um andamento mais rápido”, disse o cientista ao R7 no domingo (03). “Nosso projeto não teve nenhum financiamento público ou privado até o momento, estamos desenvolvendo nossa tecnologia somente com investimento do próprio laboratório”.
A UFMG ainda está em fase pré-clínica com seu imunizante, realizando testes em animais. A Universidade de São Paulo (USP) está em uma etapa mais avançada com a vacina em spray formulada pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas, mas também desenvolve sua tecnologia somente com recursos disponibilizados pelos centros de inovação.
Jorge Elias Kalil Filho, que coordena o estudo na instituição paulista, afirma que a falta de verba pode comprometer a permanência dos cientistas no projeto. “Para que a gente possa pagar a pessoa para trabalhar tem que ser em forma de bolsa, valores que são muito baixos, não existe nenhuma garantia de emprego”, comenta o especialista.
Os recursos do Brasil para pesquisa são pequenos e não existe o hábito das indústrias privadas de participar do processo de desenvolvimento [dos estudos], normalmente elas pegam alguma coisa que já foi totalmente desenvolvida no exterior.
Jorge Elias Kalil Filho
Pesquisador e Diretor do Laboratório de Imunologia do InCor
A USP se apoia em contribuições da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para o desenvolvimento de sua vacina em forma de spray nasal. Kalil explica que o imunizante se diferencia por utilizar o domínio receptor obrigatório como antígeno, substituindo a proteína spike utilizada por vários laboratórios.
Além disso, é utilizado um sistema que seleciona apenas as 36 proteínas responsáveis por estimular os linfócitos T — células associadas às funções imunológicas — dentro do genoma viral. A fórmula é aplicada no epitélio nasal.
“Nossa ideia é fazermos para as pessoas vacinadas, então servirá com uma dose de reforço no nariz para evitar não só a doença, mas a infecção”, afirma o cientista.
Em Minas Gerais, a UFMG desenvolve sua tecnologia com peptídeos sintéticos, isto é, pequenos fragmentos de proteínas SARS-CoV-2, para induzir a produção de anticorpos. Essa formulação utiliza insumos totalmente nacionais, o que deve garantir um custo de produção ainda mais baixo e em ampla escala no Brasil.
“O sucesso que estamos tendo até o momento mostra que nossa tecnologia tem um excepcional custo-benefício e que temos uma grande preocupação em desenvolver um produto que possa ser acessível não só para nosso país, mas também para países de baixa renda”, acrescenta Dawidson Assis Gomes.
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