O estado norte-americano do Arizona, até então um dos mais abertos a testes de veículos autônomos, suspendeu por tempo indeterminado os experimentos em seu território. A decisão foi tomada pelo governador Doug Ducey, que enviou uma carta à CEO do Uber, Dara Khosrowshahi.

Há pouco mais de uma semana, um dos carros autônomos da Uber realizava testes na cidade de Tempe, Arizona, quando atropelou uma pedestre que não resistiu ao acidente. Este foi o primeiro caso com vítima fatal envolvendo esse tipo de veículo. Para o CEO da Intel, o acidente aconteceu porque empresas "iniciantes" estão descartando a "experiência".

Inicialmente, a perícia preliminar sugeriu que o automóvel não poderia ter evitado o acidente e que a Uber talvez não poderia ser considerada culpada. Porém, há outras opiniões contrárias. Para Ducey, por exemplo, o acidente foi uma “falha inquestionável”.

Espera-se que os veículos autônomos tenham um padrão mais alto de segurança do que os motoristas humanos. Essa é a opinião de Amnon Shashua, chefe da Mobileye, unidade de sistemas de visão da Intel. Ele disse que a indústria precisa "provar que esses veículos são muito, muito mais seguros do que os humanos".

Após a morte trágica de Elaine Herzberg, iniciou-se um debate sobre o quão próximas de alcançar esse objetivo as empresas estão. Em uma publicação no site da Intel, Shashua utilizou o vídeo que registrou o momento do acidente inserindo o sistema da Mobileye. Em outras palavras, ele mostrou como o seu próprio software teria detectado o risco de acidente antes do impacto.

De acordo com o CEO, o vídeo demonstra que até mesmo o componente mais básico de um sistema de veículo autônomo, que é a capacidade de detectar e classificar objetos, realiza uma "tarefa desafiadora". Mas defende que sua solução teria tido maior sucesso, e explica o motivo.

Esse recurso [de detecção e classificação de objetos] está no centro dos sistemas avançados de assistência ao motorista (ADAS) de hoje, que incluem recursos como a parada de emergência automática (AEB) e o suporte à manutenção na faixa. São os sistemas de detecção de alta precisão dentro do ADAS que estão salvando vidas hoje, comprovado em bilhões de quilômetros rodados.

Abaixo, você vê algumas imagens do vídeo exibido em um monitor de TV, liberado pela polícia, com o software da Mobileye. Os gráficos sobrepostos mostram a resposta do sistema ADAS. Os quadrados delimitadores verdes e brancas são respostas dos módulos de detecção de bicicletas e pedestres. O gráfico horizontal mostra a fronteira entre a estrada e os obstáculos físicos, chamados de “espaço livre”, segundo Shashua.

De acordo com as imagens, o sistema detectou corretamente tanto a bicicleta quanto a pedestre.

Em seu texto, Shashua continua explicando que os "avanços recentes em inteligência artificial levaram muitos a acreditar que agora é fácil desenvolver um sistema de detecção de objetos altamente preciso e que a experiência de mais de uma década de especialistas em visão computacional deve ser descartada". Para ele, o legado dessa experiência não pode ser descartado, principalmente em áreas críticas de segurança.

Ou seja, ele critica os "estreantes" no setor autônomo, em uma referência velada à Uber, que começou a desenvolver seu sistema em 2015. Para Shashua, esses "estreantes" não passaram pelos anos de desenvolvimento necessários para garantir a segurança nos veículos.

Ele também destaca a importância da transparência sobre o significado da promessa das empresas de que a segurança é o mais importante. Ele defende que a tomada de decisões dos sistemas autônomos deve estar de acordo com o senso comum de julgamento humano, e afirma que sua empresa atende a essas necessidades.

Anteriormente, o CEO defendeu um modelo formal de garantias de segurança que todas as empresas do setor poderiam usar para validar a segurança de seus sistemas e garantir que seus veículos não causem acidentes. “Acredito firmemente que o momento de ter uma discussão significativa sobre uma estrutura de validação de segurança para veículos totalmente autônomos é agora”, escreveu.

Essa publicação de Shashua é delicada, pois ao mesmo tempo em que parece utilizar um acidente fatal para promover seu produto, é de vital importância discutir o assunto antes que outras pessoas sejam vitimadas.