Tech 26 Mar
A busca por um tratamento eficaz contra o novo coronavírus já passou por diversos medicamentos, como a cloroquina, o remdesivir e o annita – todos ainda sem comprovação concreta de seus benefícios. Agora, o remédio da vez é a dexametasona.
Uma pesquisa inglesa descobriu a eficiência para reduzir a mortalidade em casos graves da Covid-19. Contudo, isso não significa que você poderá usá-lo sem qualquer cuidado e para todos os estágios da doença. O Detetive TudoCelular detalha a situação melhor a você:
A dexametasona é um corticoide muito utilizado no tratamento de doenças reumatológicas – como artrite – e alérgicas – tal qual a asma. Ela também está presente em diferentes formatos, como comprimidos, soluções nasais ou até colírios – sob a mais famosa nomenclatura “Decadron”.
A medicação tem função anti-inflamatória e já está presente no mercado há muito tempo – mais especificamente, desde a década de 1960.
Efeitos colaterais
Este corticoide possui dois efeitos colaterais principais. O primeiro é a baixa da produção natural do cortisol ou da hidrocortisona, dois hormônios considerados reguladores do corpo humano.
Outra reação adversa é a indução de uma queda na imunidade, devido à sua ação imunossupressora. Assim como acontece em muitos corticoides, a dexametasona também favorece a retenção de líquidos no corpo, o que pode levar a um aumento de pressão e sensação de inchaço.
Uma pesquisa randômica conduzida pelos cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriu que a dexametasona reduziu a mortalidade de pacientes internados em estado grave ou moderado, nos momentos em que precisava de um respirador mecânico ou oxigênio.
No total, a equipe acompanhou 2.104 pacientes que tomaram o corticoide por dez dias, enquanto outro grupo de 4.321 não foram administrados com o medicamento. As duas turmas receberam os demais cuidados necessários. Na conclusão dos especialistas, houve uma redução do risco de morte de 35% nos casos de uso de ventilação mecânica e de 20% quando houve oxigenação.
Segundo o estudo, uma em cada oito mortes de pacientes com respirador poderia seria evitada, além de uma em cada 25 nos casos de necessidade de oxigênio. Já nos casos leves, não foi constatada qualquer diferença no índice de óbitos.
Atuação contra a doença
A dexametasona teria uma atuação muito específica nos casos graves de Covid-19: a diminuição da inflamação nos pulmões. Em estágio avançado, a doença geraria um quadro conhecido como “tempestade de citocina”, na qual uma série de proteínas passam por uma espécie de “explosão”.
As citocinas, quando liberadas pelas células na resposta à infecção, geram a inflamação como uma consequência natural para combater um patógeno. Contudo, quando o sistema imunológico se vê sobrecarregado, a produção da proteína é acelerada e passa a agravar a condição da pessoa – a ação passa a ser pior do que a do vírus em si.
“Em casos avançados de Covid-19, em que há necessidade do uso de ventiladores mecânicos, a inflamação que contribui mais para a mortalidade do que um efeito direto do vírus.”
Anthony Fauci
Chefe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, à revista Nature
Em outras palavras, a dexametasona teria uma ação como regulador da imunidade do paciente. Ou seja, não possui qualquer uso como antiviral – já que ela não tem poder sobre o coronavírus diretamente.
Por que não funciona em casos leves?
Se você não teve sintomas mais sérios da Covid-19, a ponto de precisar de respirador ou oxigenação, significa que os seus pulmões não chegaram no nível de ter uma “tempestade de citocina”.
Como já foi falado mais acima, a dexametasona possui efeito imunossupressor, isto é, ela reduz a sua imunidade – o que favorece quando está fora de controle, mas pode atrapalhar se você precisar de uma ação maior dela em casos mais brandos. Tomar o corticoide com sintomas leves poderá impedir que o seu organismo reaja de forma mais eficiente quando for necessário.
O medicamento também passa por análises dentro do território brasileiro. Ele é avaliado pela Coalizão Covid Brasil. A coordenação tem sido feita pelos hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein, HCor, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa (BP). A previsão atual é que os resultados fiquem prontos apenas no mês de agosto.
Para a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a medicação já deve ser usada nesses casos imediatamente.
“Conclusão prática: todo paciente com Covid-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da UTI devem receber dexametasona […] por dez dias.”
Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
Independente do estado da sua doença, é importante que você não se automedique com a dexametasona para o tratamento da Covid-19. Visto que sua atuação no combate à doença possui um objetivo muito específico, tomar o medicamento sem uma indicação médica poderá afetar negativamente na sua recuperação.
Além disso, a sua bula ainda não terá a posologia para infecções pelo novo coronavírus, visto que o estudo – apesar de se mostrar consistente – demanda de maiores dados para que se comprove a eficácia da medicação.
Você acredita que o uso da dexametasona poderá trazer mais resultados positivos no tratamento de casos graves da Covid-19? Compartilhe conosco a sua opinião!
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