Os estudos com células-tronco vêm abrindo horizontes na medicina, possibilitando o tratamento — e, por vezes, a cura — de doenças graves que acometem os seres humanos. Recentemente, cientistas da Universidade de Harvard em parceria com o ‎Instituto de Física e Tecnologia de Moscou (MIPT)‎ publicaram um estudo onde o tratamento de glaucoma com células-tronco obteve bons resultados em testes com animais.

Os especialistas reforçam que esta é a primeira tentativa bem sucedida de um transplante de células ganglionares (responsáveis pelo sentido da visão) derivadas de células-tronco em um ambiente de laboratório. As células poderiam ser transplantadas para que recomponham a retina do paciente após ter sua enervação destruída pelo glaucoma.

As células da retina de camundongos levaram cerca de 21 dias para serem cultivadas em uma placa de Petri, enquanto os cientistas calculam que o mesmo procedimento voltado para humanos levariam entre 50 e 100 dias para ser concluído.

Além de cultivar neurônios ex vivo com sucesso, os especialistas também transplantaram as células aos olhos dos animais, que desenvolveram corretamente o crescimento do tecido artificial nas retinas. Julia Oswald, afilhada da Harvard Medical School, ressaltou que os estudos realizados esclareceram muitas questões sobre o comportamento das células-tronco em uma área tão enervada quanto os olhos.

Com o estudo, podemos mostrar que as células doadoras transplantadas sobrevivem em microambientes semelhantes à doença. Além disso, conseguimos observar que as células sobreviveram independentemente da idade do doador e do local para o qual as células foram entregues dentro da retina.

Tendo as células sobrevivido por 12 meses, os cientistas apontam ser um período significativo para camundongos, e confirmam que foram capazes de detectar a atividade dos neurônios retinais, no entanto, a transmissão dos sinais para o cérebro ainda não foi atestada conclusivamente devido ao número relativamente baixo de alvéolos que sobrevivem ao procedimento.

Evgenii Kegeles, especialista do MIPT, mantém uma visão positiva apesar da limitação do estudo. Mesmo que os sinais elétricos não possam ser observados, o fato de manusear as células-tronco e transplantá-las com sucesso, permitindo que o tecido das retinas fossem reestruturados, pode ser considerado um grande passo para qualquer outra pesquisa futura.

Nosso estudo mostra uma primeira prova de conceito para o isolamento das células doadoras pós-transplante, que é observar em um nível molecular que as células formaram, de fato, sinapses, cresceram axônios e se integraram à retina. [...] Isso nos permitirá encontrar e empregar mecanismos moleculares que ajudarão as células transplantadas a funcionar adequadamente e, como resultado, melhorar a função visual quando transplantados na quantidade certa.

Apesar desses entraves, o olho é um órgão de rara rejeição, possibilitando que se crie um "banco de células" para pacientes com glaucoma — células de retina provindas doador universal ou células-tronco pluripotentes, que são capazes de se reproduzir em qualquer forma e conferir renovação celular, poderiam ser armazenadas nesse banco e permitir um cultivo preventivo do material. Os cientistas envolvidos na pesquisa estimam que testes clínicos possam ser realizados a partir do ano de 2030.

"A capacidade dos neurônios doadores de se integrar à retina doente e sobreviver por mais de um ano traz esperança e excitação para o desenvolvimento da terapia celular", declarou Peter Baranov, investigador da Harvard Medical School, com uma ampla visão de que as células-tronco podem corresponder ao futuro de tratamentos inimagináveis atualmente.