Tech 12 Mai
No ano passado, um dos assuntos mais comentados na indústria de tecnologia foi o metaverso e o uso massivo das NFTs, moedas digitais usadas para dar valor em itens sem matérias físicas, como, por exemplo, uma imagem digital.
Além de assegurar a autenticidade e de determinar quem são os donos de cada item, as NFTs também criam um mercado próprio, onde você pode revendê-las ou trocá-las.
Embora exista uma polêmica enorme em relação aos itens, que resulta em confrontos acirrados entre os que defendem seu uso e os que enxergam os itens apenas como uma forma fácil de ganhar dinheiro, não podemos negar que, assim como muitas outras tecnologias que foram rejeitadas no início, as NFTs podem acabar se tornando o futuro de algumas indústrias, como a dos videogames.
Enquanto estúdios como Ubisoft tentam dar seus primeiros passos no uso das NFTs em seus jogos e acabam se frustrando com a resposta dos jogadores, a Nintendo parece já ter encontrado uma forma de usar a tecnologia nos jogos de Pokémon há muito tempo e os jogadores sequer se deram conta disso.
Desde o princípio, a franquia Pokémon teve como slogan a frase "Gotta Catch 'em All!" (temos que pegar todos, em tradução livre). A frase remete ao objetivo principal dos jogos da franquia, que é capturar todos os monstrinhos disponíveis em cada título.
Desde 1996, a Game Freak tem lançado jogos de Pokémon que sempre contaram com uma função muito divertida e que aumentava o engajamento cooperativo dos jogadores, mesmo em uma época em que a internet não era tão acessível como hoje em dia: as trocas.
Para quem joga Pokémon, sabe que é impossível completar a Pokédex de um jogo sem realizar trocas, afinal, cada título possui monstrinhos exclusivos, obrigando os jogadores a trocarem entre si, caso não queriam comprar duas versões "do mesmo jogo" (como Pokémon Red e Blue, por exemplo).
Com o passar do tempo e a evolução dos jogos da franquia, as trocas foram ficando cada vez mais complexas e completas e isso acabou criando novas oportunidades para os jogadores e até mesmo para alguns comerciantes.
Embora a Nintendo tenha revelado recentemente que não tem interesse no Metaverso (o que consequentemente implica no uso de NFTs), já faz um bom tempo que a empresa trabalha com esse conceito de trocas de itens digitais, que são a base dessas novas "moedas".
Desde a segunda geração dos jogos, já era possível enviar um Pokémon para troca enquanto ele segurava um item. Isso por si só já poderia se enquadrar no conceito de NFT, afinal, um jogador pode ofertar um Pokémon insignificante que segura um item raro, recebendo em troca um Pokémon raro.
De lá para cá, os jogadores continuam usando as trocas para conseguir itens e alguns monstrinhos exclusivos, incluindo as versões Shiny, que são edições extremamente raras com cores diferentes dos Pokémon tradicionais.
Com a chegada da internet, esse mercado de troca para itens e monstrinhos ficou cada vez mais robusto, com alguns jogadores chegando a criar anúncios em sites como o Mercado Livre para ofertar pacotes pagos com dinheiro de verdade, onde você escolhe o Pokémon que quiser, personalizado da forma que quiser (nível, item, versão shiny ou normal, etc.) e o recebe através do sistema de trocas do jogo.
Tendo em vista o sucesso das trocas nos jogos, a Nintendo lançou em 2020 a plataforma Pokémon Home, que armazena seus monstrinhos na nuvem e permite que, além de fazer trocas, você transfira os Pokémon entre alguns jogos da franquia, incluindo Pokémon Go, Let's Go e Sword/Shield. Uma expansão do serviço está programada para lançar este ano e incluir os jogos Brilliant Diamond/Shining Pearl e Legends: Arceus.
Na teoria, esse mercado de trocas de itens e Pokémon parece um negócio excepcional e até mesmo lucrativo, permitindo que os jogadores tenham acesso a todo o catálogo de monstrinhos da franquia sem fazer muito esforço, incluindo até mesmo os Pokémon Lendários e Míticos, mas quem garante que todas as trocas são legítimas? Bem... ninguém.
Os hacks e códigos sempre fizeram parte dos jogos de videogames, dando aos jogadores vantagens como munição e vidas infinitas, itens de cura ilimitados e entre outros. Em Pokémon, isso não é diferente.
Na franquia dos monstrinhos também existem formas de se clonar um Pokémon, códigos para forçar a aparição de um monstrinho lendário, para gerar Pokébolas extremamente raras ilimitadas, entre outros.
Com isso, muitos jogadores conseguem criar um estoque infinito de monstrinhos raros e usá-los como moedas de troca, sem precisar fazer muito esforço para capturar o Pokémon em questão pelos métodos tradicionais. Além disso, aquele monstrinho super raro e cobiçado pode nem mesmo ser verdadeiro, sendo apenas um clone criado por um código. Entre os jogadores, esse tipo de Pokémon é conhecido como Genned.
Embora os mais aficionados tenham formas de diferenciar um Pokémon criado por hack de um criado por meios legais, os mais leigos não se apegam a isso e estão mais interessados em dizer que possuem um lendário extremamente raro.
Esses Pokémon também servem para alimentar o mercado cinza de pacotes vendidos em plataformas como o Mercado Livre. Embora possam existir vendedores que trabalham apenas com monstrinhos legítimos, não podemos deixar de supor que a grande maioria vende apenas clones gerados por um código, o que em teoria, não tem o mesmo valor de um monstrinho que foi obtido pelo método tradicional (jogando e capturando-o).
Apesar da Game Freak tomar algumas medidas para tentar mitigar o uso desses Pokémon "falsos", não existe de fato uma punição real para essa prática, e até mesmo em grupos de Facebook os jogadores encontram formas de realizar trocas ou receber gratuitamente os monstrinhos digitais, mostrando que é praticamente impossível controlar isso — sem contar que seria um grande tiro do pé dizimar essa prática, pois isso movimenta e muito os jogos.
Em relação às NFTs, podemos considerar que caso elas se tornem mais fortes e aplicadas intensivamente nos jogos, o que garante que elas também não seriam replicadas e trocadas como acontece com os Pokémon?
Infelizmente, limitar a reprodução de um conteúdo digital é praticamente impossível e por mais que existam leis de proteção aos direitos autorais, sites de pirataria estão aí para provar que sempre há um jeito de continuar tendo acesso a esses materiais.
Não dá pra dizer ao certo se as NFTs vão "vingar" como muitos gostariam, mas não podemos negar que a Game Freak foi visionária em criar esse sistema para os Pokémon, que inclusive pode servir de base para as NFTs e mostrar as dificuldades que esse mercado enfrentará.
Depois disso, você acha que as NFTs podem funcionar no mercado de jogos?
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