Tech 15 Ago
O apagão ocorrido em vários bairros de São Paulo durante os temporais da última semana, com a falta de solução rápida pela Enel – concessionária pela distribuição de energia elétrica no estado paulista –, gerou discussão sobre as alternativas para a rede elétrica, a fim de evitar que esses incidentes voltem a ocorrer.
Mas quais seriam as principais opções para substituir a atual fiação aérea? Que vantagens e desvantagens cada uma possui? O Detetive TC foi atrás das informações e conta a você nesta coluna.
A principal alternativa que vem à tona quando o assunto é discutido consiste nas chamadas redes subterrâneas. Elas demandam que os cabos sejam aterrados para que possam passar por baixo das ruas e calçadas, sem que sejam afetados por chuvas ou ventanias.
Algumas cidades no mundo são referências na utilização desse método de distribuição de energia. Os principais exemplos são Londres, que investiu mais de US$ 1 bilhão desde o final da década passada para a construção de um sistema em túneis mais profundos que os já existentes embaixo do asfalto anteriormente; e Paris, cuja rede subterrânea teve início desde 1910 e foi concluída há mais de 60 anos.
Especialistas indicam que esta seria uma solução plausível, visto que evitaria queda de árvores e outros impactos sobre os cabos elétricos. Mas não são somente esses os benefícios de usar esse método de distribuição de energia.
Com o enterramento das redes, os chamados “gatos” – nome dado para os furtos de energia – poderiam ser combatidos. Além disso, seria reduzido o roubo de cabos, bem como a paisagem urbana ficaria visualmente mais limpa. A fiação subterrânea ainda conta com maior confiabilidade e entrega uma vida útil superior a 30 anos.
No entanto, os dados mais recentes mostram que somente 0,4% da fiação elétrica do país seja subterrânea. Por que somente isso? O maior impasse para essa mudança está nos valores elevados para realizar a transição.
Estima-se que seria necessário um custo de até dez vezes mais para a instalação de fiação subterrânea, em relação ao gasto na estrutura aérea. Isso, na prática, resultaria em tarifas maiores para o consumidor.
Somente no centro da capital paulista, a Prefeitura de São Paulo calcula que seria necessário ter uma quantia de R$ 20 bilhões. Como as linhas de distribuição completas da cidade possuem mais de 43.000 km de extensão, sob a responsabilidade da Enel, um aterramento completo deixaria o processo inviável financeiramente.
Outra desvantagem conhecida desse tipo de instalação está na demora da manutenção corretiva. Isso porque, como o problema não estaria mais “explícito”, a localização do defeito demandaria um tempo maior.
Uma solução com menos custo e que pode ser vista também em algumas cidades europeias é a instalação de fiação aérea por meio de canaletas, que passam pelas fachadas dos edifícios de maneira bastante discreta e mais protegida.
Um exemplo de município com essa infraestrutura é a cidade de Roma, na Itália. Como dá para ver nas imagens capturadas pelo Google Maps, esses tubos com a fiação elétrica vão e voltam pelas casas e demais construções, sem que fiquem perceptíveis ou tão expostas a qualquer desastre natural.
Esta seria uma possibilidade para o Brasil ter maior estabilidade na manutenção da rede elétrica, ao prevenir impactos diretos por chuvas e ventanias, enquanto não deixa de manter a rede elétrica aérea, para facilitar detecção de algum eventual problema.
Por sua vez, ainda permitiria manter um paisagismo sem a poluição visual dos vários cabos passando pelos postes, enquanto evitaria grandes custos para a implantação e ao próprio consumidor.
Por fim, está a implantação das redes inteligentes, também chamadas de “Smart Grid”. Este modelo se trata mais de um conceito que engloba tecnologia, equipamentos e métodos no fornecimento do serviço.
A intenção é que, no futuro, no lugar de uma longa rede de transmissão com poucos geradores energéticos, haja vários geradores espalhados por toda a rede. O “Smart Grid” possibilita um fluxo bidirecional de energia, com comunicação em ambos os sentidos – e não unilateral, como ocorre atualmente.
A técnica permite a integração de mais fontes, como as renováveis solar e eólica, bem como o armazenamento dessa energia, para repor em um momento posterior – inclusive, no carregamento de carros elétricos –, a fim de equilibrar o sistema. Na prática, daria para guardar energia, o que poderia ser suficiente para uso por algum tempo, caso a estrutura sofresse algum tipo de dano.
Os medidores inteligentes também seriam diferentes dos convencionais. Com eles, seria possível permitir o fluxo bidirecional e obter mais informações para monitorar a utilização de energia.
Dadas as alternativas, por que ainda é mantida majoritariamente a fiação aérea por meio de postes no Brasil? Um dos pontos já foi explicado ao longo desta coluna: os altos custos para a implantação de uma infraestrutura mais moderna. No entanto, como a opção sempre levantada é a mais cara – subterrânea –, vimos aqui que esta pode não ser a única e que dá para investir menos em uma saída também eficiente.
Outro fator de continuidade do modelo atual está no fato de que esta é a estrutura recebida pelas concessionárias do serviço de energia, as quais apenas mantêm o que lhes foi entregue, sem a iniciativa mais ampla de modernização dela.
Para completar, há o aluguel de postes para uso por operadoras de serviços de telecomunicações. Dados de março de 2022 apurados pela Anatel junto ao setor elétrico mostram que o compartilhamento com empresas de telecom giraria em torno dos R$ 3 bilhões anuais, com um valor mensal superior a R$ 10 por poste.
Qual alternativa você entende ser mais viável para a sua região? Já há alguma dessas opções instaladas onde mora? Participe conosco!
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