Tech 04 Dez
Esta semana, o PlayStation comemorou seus 30 anos de existência, uma data extremamente emblemática, que marca um enorme ponto de virada na indústria dos videogames.
Em comemoração ao aniversário, o Eurogamer entrevistou Shawn Layden, antigo chefão da PlayStation, que falou um pouco sobre o futuro da marca e dos consoles de videogame como conhecemos atualmente.
Onde estará o PlayStation daqui a 30 anos? Já faz muito tempo que especialistas falam sobre o fim dos consoles de videogame, mas em um momento de orçamentos cada vez maiores para jogos AAA, consoles premium de R$ 7.000, e um público cada vez mais viciado no TikTok, a ideia de estarmos sentados aqui em 2054 comemorando o PS9 parece cada vez mais improvável.
Então, para onde vai a indústria dos consoles de videogame no futuro? Como você combate esses enormes orçamentos? Como os jogos podem mudar? E chegamos ao ponto em que, em grande parte, o hardware em que jogamos não importa?
Shawn Layden, ex-presidente do PlayStation Worldwide Studios, comentou sobre esses temas em uma recente entrevista e deu uma resposta definitiva sobre a possibilidade do PlayStation algum dia lançar jogos no Xbox.
Layden afirma que os jogos AAA atingiram um ponto crítico. Com custos de desenvolvimento ultrapassando os US$ 150 milhões na geração PS4 e projetados para alcançar US$ 300-400 milhões no PS5, a sustentabilidade desse modelo está em xeque. Ele comparou os AAA à construção de catedrais: “Não podemos continuar construindo essas edificações gigantescas... talvez devêssemos construir igrejas menores, mas igualmente impactantes”.
Essa escalada de custos também limita a criatividade. As produtoras, pressionadas por investidores, preferem apostar em sequências e fórmulas seguras, como “GTA 7”, ao invés de correr riscos em novos gêneros ou ideias inovadoras.
Layden lamenta a falta de jogos ousados como PaRappa the Rapper, mencionando que a inovação hoje está restrita ao cenário indie, onde há maior tolerância ao risco. Contudo, mesmo nesse ambiente, os recursos são limitados, o que impede que ideias realmente inovadoras ganhem força.
Ele também criticou a obsessão por fotorrealismo, que aumenta os custos de produção e pode alienar os jogadores. “Um Mario fotorrealista seria perturbador, francamente”, brincou, destacando que perseguir o “vale da estranheza” não é necessariamente o caminho para jogos melhores.
Layden também destacou um tema crucial: se o hardware dos consoles se tornar irrelevante, o futuro da indústria dependerá da força do conteúdo. Apesar disso, ele não parece acreditar na ideia de lançar jogos do PlayStation em plataformas rivais, como Xbox, algo que a Microsoft já faz com títulos como Minecraft e The Elder Scrolls.
Ele explicou que o PlayStation sempre liderou no cenário global, sendo a principal plataforma em 170 países. Essa liderança é sustentada por uma base de fãs leal e pela força de seus exclusivos. “A pergunta é: com esse enorme impulso, vale a pena construir versões de nossos jogos para uma plataforma concorrente, que tem um alcance muito menor? Eu não sei se o resultado vale o esforço”, afirmou.
Layden também comentou sobre a reação negativa de parte da base de fãs do PlayStation a lançamentos de jogos para PC, mesmo quando acontecem mais de um ano após o lançamento nos consoles. Ele questionou como esse público reagiria à ideia de ver títulos do PlayStation Studios em um console rival. “Se já há insatisfação com jogos saindo no PC, imagine o que diriam de lançamentos para o Xbox?”, refletiu o executivo.
Outro ponto levantado foi a duração dos jogos. O executivo acredita que jogos mais curtos e focados poderiam ser uma solução para equilibrar custos e qualidade. Ele mencionou que jogos com 100 horas de conteúdo podem não ser práticos para a maioria dos jogadores, que hoje têm menos tempo disponível. “Eu quero uma experiência como em Resident Evil, onde você solta o controle de susto... Quero mais momentos assim”, afirmou.
Layden também questionou a relevância dos consoles a longo prazo, sugerindo que o futuro da indústria pode depender mais de conteúdo do que de hardware. Ele destacou que, tecnicamente, os consoles atuais são muito semelhantes, com componentes da mesma fabricante (AMD). Além disso, a inovação em hardware está atingindo um platô, e os saltos tecnológicos entre gerações são cada vez menos perceptíveis.
No passado, o salto do PS1 para o PS2 foi enorme. Hoje, estamos em um ponto onde apenas cães conseguem perceber a diferença.
Segundo o executivo, algumas soluções para tentar manter a sustentabilidade da indústria dos videogames a longo prazo seriam reduzir os custos de produção, criar experiências mais acessíveis e inovar no conteúdo, não apenas no hardware.
Você concorda com as opiniões de Layden sobre o futuro da indústria dos videogames?
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