20 Dezembro 2016
Muitos estão acostumados a tratar assistentes virtuais, como Siri e Cortana, no feminino. Isso porque quando ambas foram lançadas originalmente, possuíam voz feminina, tendo recebido apenas mais tarde uma voz masculina - no caso da Siri isso ocorreu no Reino Unido e da Cortana em uma atualização para o Windows 10, que permite às pessoas mudar a opção de voz.
Mas o novo assistente M do Facebook é projetado para ser neutro e sem sexo ou gênero. De acordo com Alexandre Lebrun, fundador da Wit.Ai, empresa adquirida pelo Facebook em janeiro para o desenvolvimento do serviço, a proposta é que o M seja "abstrato".
Não há um nome verdadeiro. É só M, nem mesmo um nome completo.
M, que está ainda em testes e disponível para um número muito pequeno de usuários, nem sequer tem um avatar, para que possa permanecer "profissional e neutro", Lebrun, explicou.
Isso pode ser complicado por alguns motivos. Primeiro porque, considerando que M ainda tenha seres humanos por trás, "treinando" o aplicativo, envolvendo e influenciando o serviço em cada pergunta feita pelos usuários, a neutralização pode encontrar alguns percalços na interferência humana que alimenta a inteligência artificial.
Em comparação, Siri e Cortana não têm a mesma interferência humana. O criador da Siri, Adam Cheyer, disse que eles optaram por dar a ela uma personalidade e, com isso, suas respostas podem ser espirituosas. No caso de M, isso não ocorre, pois a equipe do Facebook quer a neutralidade em sua personalidade, também. Mesmo quando "treinadores" estão envolvidos, eles não querem que você se sinta como se estivesse conversando com alguém.
A segunda complicação, ao menos em termos de gênero para idiomas como o português, a neutralização é oficialmente inviável. Isso porque todos os substantivos possuem gênero feminino ou masculino. É até comum questionar qual dos dois devemos utilizar, quando se trata de uma novidade estrangeira que não tem um gênero definido. Podemos omitir o artigo para nos referir ao assistente, mas nem em todas ocasiões isso é possível. No inglês, não existe tanta dificuldade.
Em terceiro lugar, é complicado para nós, seres sociais que somos, acostumados a interagir com outras pessoas no chat, olharmos para as mensagens de M e não nos sentirmos conversando com alguém. Gostamos de interação humana, mesmo que simulada, tanto que histórias de afeto entre homem e máquina são comuns na ficção - e na vida real também. Dito isto, ainda não está muito claro porque o Facebook tomou essa decisão.
De qualquer forma, para gerenciar essa experiência neutralizada, o M lança um olhar sobre as questões primeiro e sugere respostas. Um treinador humano então escolhe a melhor de todas as opções para enviar ao usuário do Facebook que fez a pergunta, ao invés de escrever. Lebrun admite que é trabalhoso, "mas é factível."
Comentários