Discrição é o que muitos usuários buscam em aplicativos como o Grindr, uma alternativa ao Tinder focada no público gay masculino. Nele, uma lista de pessoas disponíveis e próximas é apresentada, e no perfil você pode descobrir os interesses delas e obter informações como altura, tipo físico, e até status HIV.

O que muitos clientes não estão gostando é da descoberta que o app compartilhava diversas informações com empresas parceiras que, na teoria, deveriam ficar restritas aos outros usuários do serviço. Status HIV (positivo, negativo, indetectável, em PreP [medicação para evitar a obtenção do vírus]) e datas dos últimos exames eram entregues às empresas Apptimize e Localytics.

Foi revelado também que houve certo desleixo por parte dos programadores, já que outras informações pessoais como identificador do telefone, posição de GPS, etnia, status de relacionamento e orientação sexual eram repassadas para companhias parceiras de forma muito simples, podendo ser obtidas em um arquivo de texto por alguém com o mínimo conhecimento e acesso ao tráfego da rede utilizada pelo usuário.

Em tese, a repassagem de dados poderia servir para otimizar anúncios publicitários para usuários, por exemplo, evitando mostrar propagandas sobre a PreP para usuários HIV+, e ocultando anúncios de medicamentos que fazem parte da rotina de soropositivos para quem é HIV-.

O Chefe de Tecnologia do Grindr, Scott Chen, deu a seguinte declaração sobre o caso:

Nenhuma informação dos nossos usuários foi vendida para outras companhias. Nós pagamos essas empresas para utilizarmos seus serviços. Milhares de desenvolvedoras usam essas renomadas plataformas. São práticas rotineiras no ecossistema de aplicativos para dispositivos móveis.

Scott também confirma que há contratos com as duas companhias para que os dados já obtidos permaneçam no mais absoluto sigilo. Na ocasião também aproveitou, dado o episódio que deixou a imagem da empresa mal com os usuários, que o status HIV de ninguém será compartilhado daqui para frente.

Conforme vimos no começo do ano, a integração ou utilização de serviços de outras desenvolvedoras pode trazer soluções muito práticas, mas também pode resultar em catástrofes: o Instagram se viu no centro de um episódio de racismo ao lado do Snapchat, pois uma falha do GIPHY permitia o upload de stickers sem bons filtros de moderação.

O Grindr ao compartilhar dados, ainda mais sensíveis como status HIV e GPS, pode colocar seus usuários em risco pois não apenas a companhia terá que garantir segurança suficiente para não sofrer uma invasão, mas suas parceiras também. Há um aumento da disponibilidade dessas informações que pode interessar hackers.

Em países onde a população homossexual é ainda mais estigmatizada que nas nações progressistas, pessoas estariam ainda mais vulneráveis a preconceito e até perseguição governamental, já que em lugares como Irã, Arábia Saudita, Somália, Síria, Índia, dentre outros, ser gay é passível de pena de morte ou prisão perpétua.

No começo do ano o Tinder esteve no centro da discussão depois que a Checkmarx provou que apenas utilizando a mesma rede Wi-Fi que um usuário era possível obter informações de likes, super likes, e matches.

Com tantos problemas surgindo no universo dos aplicativos de relacionamentos, será que estamos mesmo seguros para utilizá-los?