Ontem o Tudo Celular noticiou um pouco sobre o Tidal e sua grande conferência marcada para a noite passada. Com dezenas de artistas convidados, tudo parecia mais um lineup para um megafestival de música, mas a reunião não passava da grande aposta de Jay Z. O rapper, produtor e marido de Beyoncé lança hoje seu próprio serviço de streaming de música, batizado de Tidal. Ao seu lado, além da esposa, outros artistas como Madonna, Rihanna, Coldplay, Arcade Fire, Taylor Swift (que deixou o Spotify) e Daft Punk.

A ideia do serviço é que todos que quiserem ouvir música nele terão que pagar. Ou seja, nada de versões gratuitas, como acontece no Spotify ou Deezer, e o valor inicial custará o dobro do oferecido pelos rivais, a 19,99 dólares. Em troca ele permite que os assinantes ouçam material com alta qualidade de som, além do conteúdo exclusivo de alguns músicos.

A real motivação por trás do Tidal é a insatisfação de alguns cantores e bandas em relação aos serviços de streaming. Isso porque diziam que as empresas não repassavam valores justos aos donos das músicas e ainda possibilitavam que muita gente que não pagava ouvisse o conteúdo.

Além disso, alguns artistas um pouco egomaníacos, como Madonna, vêem o projeto como algo grandioso e capaz de mudar a história da música, tudo sob o pretexto de ser o primeiro serviço de música via streaming que combina a melhor qualidade de som com “Alta Fidelidade”, vídeos em “Alta Definição” e conteúdo editorial com curadoria especializada.

Os principais beneficiados com esta iniciativa são os próprios artistas, que retomam o poder da indústria fonográfica, que havia sido perdido desde a invenção do MP3. Depois, os agentes e empresários que vão negociar com o serviço. E por último, os fãs, já que esse projeto faz com que os músicos voltem a ter mais controle sobre seus trabalhos, porém isso faz com que eles possam vir a cobrar o preço que acham justo – o que pode ser um valor realmente justo, no entanto, pode ser algo que pouca gente possa pagar.

O que mostra o grande problema do Tidal, ele não oferece nada novo e ainda cobra o dobro dos demais serviços. Pior ainda, o pretexto de que você vai estar ajudando os artistas não deveria servir para pessoas como Rihanna e Madonna, que possuem muito mais dinheiro para gastar do que são realmente capazes. No fim, todo o evento ficou com um tom de caridade muito estranho, especialmente quando levamos em conta o tamanho da conta bancária dos participantes.

A mentalidade por trás do Tidal parece representar claramente o que motivou o encolhimento da indústria fonográfica nos últimos 15 anos, uma ambição desmedida por parte dos grandes nomes da indústria. A melhor coisa sobre o Spotify é que ele é acessível a todos, enquanto a Madonna acha que ganha muito pouco pelo serviço, os artistas menores (e até mesmo grandes artistas brasileiros como Chico Buarque e outros nomes do Selo Biscoito Fino) tem uma opinião contrária: ele é inclusivo, ajuda a divulgar o artista, é gratuito para o usuário e ainda paga formalmente o artista pelos direitos das músicas presentes no programa.

Enquanto os grandes nomes da música Pop, ainda se sentirem intitulados a ganhar muito mais dinheiro do que já tem, a indústria fonográfica vai continuar a se fragmentar e encolher em termos de volumes de negócio. Nada mais impressionante do que ouvir um discurso de Jay Z no vídeo acima, onde ele afirma que o que está fazendo vai “mudar o curso da história”, para em seguida fazer um brinde com champanhe junto de seus outros amigos milionários.

O novo Tidal irá ao ar ainda hoje nos Estados Unidos, e apesar de contar com um serviço inicial de 19,90 existem planos de que um serviço análogo a versão premium do Spotify será lançado em breve pelo mesmo preço do concorrente.