Android 18 Out
“Uma marca chinesa sendo falsificada por europeus, este é um cenário que eu não teria previsto há dez anos”. Este comentário, feito por um usuário no Reddit, resume toda a história a seguir.
A Zetta é uma fabricante espanhola de smartphones que se autodeclara a resposta do país ao iPhone. No entanto, vários sites de tecnologia e fóruns de discussão estão acusando a companhia de alterar dispositivos da Xiaomi e vender como produtos originais.
A startup foi fundada em 2014 pelo espanhol Unai Nieto e pelo chinês Eric Cui. O logo é uma bolota mordida. Preciso dizer de onde veio a inspiração? Se você não sacou, é uma referência – para dizer o mínimo – à maçã mordida da Apple.
O primeiro lançamento da companhia, em 2015, teve boa recepção, com mais de 1,2 mil unidades vendidas em poucas semanas. Em outubro de 2016, a empresa já tem sete lojas próprias na região de Extremadura, na Espanha, e seus produtos são revendidos por mais de 80 lojas ao redor do país.
Produtos originais?
Em 15 de outubro, o CEO Unai Nieto deu uma entrevista ao El Español em que afirma que as placas e circuitos de seus dispositivos são fabricados na China, pois o país possui a tecnologia e o conhecimento para tal, mas que sonha em criar uma cadeia de produção na Espanha.
Gostaríamos e esperamos que chegue o dia em que possamos assumir todo o processo, e que todo o dinheiro investido e gerado fique na região. Mas, por enquanto, a grande verdade é que temos que fabricar as placas lá [na China] e montar aqui.
Mas Nieto não contava com o poder da internet. No fórum Forocoches, usuários começaram a investigar os dispositivos. E descobriram que todos possuem números de série pertencentes à Xiaomi. A Zetta apenas compra os aparelhos da chinesa, muda o visual e os revende por um preço mais alto.
A farsa é descoberta
Usuários descobriram que, por trás das baterias dos smartphones Zetta, há um adesivo. Retirado este adesivo, pode-se ver o logo da Xiaomi e o número de série do aparelho.
Partindo daí, o site The Geek Hammer foi investigar a ROM customizada do Android utilizado nos dispositivos. E descobriu que é utilizada uma versão da CyanogenMod gratuita apenas para uso pessoal. Empresas precisam pagar aos desenvolvedores para utilizar a ROM em dispositivos comerciais.
Uma das acusações é de que a Zetta pegou o Redmi 2, que é vendido a € 90 no varejo online, mudou um pouco a aparência, colocou a ROM customizada e o símbolo da bolota mordida para revender como Conquistador 4.7 SE por € 185,95. Já o Redmi Note 2, € 160, tornou-se o Conquistador 5.5 Plus, € 235,95.
Zetta se defende
O caso ganhou a mídia nacional na Espanha. E a startup publicou uma nota oficial em seu site oficial, negando as acusações e garantindo ser uma companhia idônea.
Sobre as manifestações “não comprovadas” expressas em vários fóruns e mídia, a empresa de telefonia baseada em Zafra, com sede em Madri, Zetta Smartphone afirma que as opiniões expressas na internet sobre a marca são imprecisas.
O primeiro smartphone que esta companhia de Exremadura lançou, o Zetta Multiverse, foi desenhado e fabricado pela companhia com o apoio de cadeias produtivas chinesas.
Em outros modelos, a companhia compartilhou componentes eletrônicos com algumas companhias do setor asiático, e a Zetta Smartphone trabalha em melhorar e adaptar a usabilidade de smartphones para os clientes europeus.
A empresa ainda afirma que adaptou “componentes” para uso nas redes europeias, oferecendo ainda garantia aos usuários. E que ainda adaptou o software para uso ocidental, “representando a melhora e a possibilidade de utilização”.
Xiaomi nega relação com a Zetta
O vice-presidente de operações internacionais da Xiaomi, Hugo Barra, declarou ao El País que a empresa chinesa não possui, atualmente, nenhum acordo de marketing na Europa Ocidental. A empresa está atualmente focada em "países onde os smartphones não alcançaram grande penetração e possuem grande população", como o Brasil e a Índia.
A reportagem do El País também afirma que Eric Cui, também conhecido como Bojan Cui, tentou registrar a marca Zetta no Aliexpress Espanha, mas não conseguiu, por razões não explicadas. O Aliexpress, loja online de origem chinesa, um dos poucos meios que consumidores europeus têm de comprar smartphones da fabricante das linhas Mi e Redmi.
Por fim, a Xiaomi diz que não sabe se tomará qualquer medida legal contra a Zetta, mas, como foi informada de que a espanhola teria vendido apenas 1,2 mil unidades até agora, pode não se incomodar em ir atrás de tão pouco prejuízo. A companhia acaba de anunciar a marca de um milhão de smartphones vendidos em 18 dias.
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