Se você já assistiu qualquer filme de ficção científica, ou que envolva muita tecnologia, como Minority Report, você pode ter percebido que existe uma relação dupla entre esta mídia e o mundo real. Ao mesmo tempo que os autores tentam expressar desenvolvimentos possíveis para as tecnologias atuais, os entusiastas do ramo e o público em geral acabam direcionando também o desenvolvimento científico para esse tipo de inspiração.

O maior filme do ano até agora é a sequência de Vingadores, batizado de “A era de Ultron”, e ele está repleto de inovações tecnológicas do ponto de vista das telas e das interfaces, desde os esquemáticos de Tony Stark até as complicadas planilhas digitais da doutora Helen Cho. O TudoCelular decidiu explorar um pouquinho esse mundo e falar sobre o estúdios de efeitos especiais londrino que está objetivamente transformando a forma como vemos tecnologia.

O Territory Studio também foi responsável por outros filmes importantes dos últimos tempos, como Guardians of the Galaxy, assumindo especificamente o design dos diferentes aparelhos, telas e computadores do longa de ficção científica. Veja o vídeo abaixo e conheça o trabalho da Territory para A era de Ultron:

O resultado de muitas horas de planejamento e desenho são as belíssimas interfaces que orbitam o rosto de Tony, ou aparecem nos elaborados computadores que ele e Bruce Banner utilizam durante o filme. A chave para que estes design funcionem é uma mistura entre o realismos e o simbolismo.

Por exemplo, para criar o conteúdo das telas da Doutora Helen Cho, a Territory investigou verdadeiramente as tecnologias empregadas no filme, como escaneamento de tecidos, bioimpressão e etc. A ideia era entender o que precisaria aparecer em uma tela desse tipo de aparelho, quais são as informações críticas que um médico deve saber ao operar este tipo de procedimento.

As telas nunca são o foco da ação em “Era de Ultron”, mas é importante que eles sejam críveis e reais para os espectadores. Por exemplo, durante a análise da construção do corpo do visão, as telas ao lado do seu “casulo” mostravam o corpo dele, com padrões magentas indicando o quão rápido estava o processo e círculos fazendo alusões a locais mais críticos da estrutura. Você pode ver a costela em alta definição com diversas células artificiais que lentamente vão dando forma ao torso e muitas outras coisas.

Para os criadores destas interfaces, “nosso trabalho é compreender o que um cirurgião ou um doutor poderiam estar fazendo, e refletir isso nas lentes apropriadas de um filme da Marvel”.

Outro exemplo são as já bem estabelecidas armaduras do Tony Stark, que aparecem na forma de brilhantes esquemáticos nas telas, capazes de serem desmontados e modificados na hora. Aqui os estudos foram entre engenheiros e construtores, que tipo de coisa seria mais benéfico de ser visualizado quando você está em seu processo de criação/montagem?

Certamente, desenhos de engenharia industrial e imagética médica não são os visuais mais acessíveis para todo mundo. Apenas uma fração dos espectadores entenderia o que eles estão olhando se a empresa criasse tudo baseado tão somente no realismo. O truque é pegar a inspiração destes campos de conhecimento reais, e traduzir isto em uma interface intuitiva e simbólica, capaz de fazer com que qualquer um entenda mais ou menos o que determinada tela está mostrando.

Um bom exemplo disso são os computadores de Banner, um sujeito que estudou muito anatomia molecular, genética, estrutura das plantas e morfologia celular. A realidade é que um cientista desse porte iria olhar apenas para tabelas, databases e gráficos, algo que seria relativamente desinteressante para o público leigo, além de não mostrar de forma clara o que ele está pesquisando. Com a adição de algumas imagens, como plantas e outros organismos sendo analisados, a lógica por trás das outras tabelas aparece e se torna mais compreensível.

Outro desafio para eles é uma eterna corrida contra a realidade. Como diria o chefe do estúdio, Sheldon Hicks. “Nós temos de ficar o tempo todo ligados na quantidade de inovação que está acontecendo, parece que toda semana, todo mês aparece uma nova tecnologia que terá um impacto gigantesco nas vidas de todo mundo”. Isso ocorre porque muitas vezes, os designs e as interfaces do estúdio acabam indo parar no mercado, seja por inspiração ou por coincidência.

A tendência ficou tão forte nos últimos anos que diversas empresas reais de tecnologia têm pedido para a Territory Studios desenharem a interface dos seus produtos. O nível de sucesso tem sido tão grande que eles começaram a criar designs para a NASA, todos eles inspirados em um projeto anterior para o filme “The Martian”.

É interessante pensar o quanto a ficção científica é capaz de transformar o nosso mundo, até mesmo em um campo muitas vezes esquecido porém crucial da tecnologia, que é o design de telas e interfaces.