13 Dezembro 2015
Você se lembra da vuvuzela? Aquele instrumento cujo único propósito é fazer barulho, utilizado mundo afora durante a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, fez a festa de muitos torcedores - e irritou tantos outros que queriam sossego - e agora serviu de inspiração para batizar a nova técnica de comunicação anônima, desenvolvida por pesquisadores do MIT.
Os usuários que desejam navegar pela internet e se comunicar com outras pessoas ao redor do globo de forma anônima e sem deixar rastros que possam ser usados em um possível monitoramento, costumam utilizar o Tor, um famoso navegador que promete oferecer essas vantagens. Porém, como muitos têm dito nos últimos anos, o Tor talvez não seja tão seguro quanto se imagina. Além disso, ele tem sido alvo de tentativas de proibições em alguns países, com a desculpa de que o software é utilizado por terroristas e criminosos.
Ainda assim, a comunicação anônima é fundamental para o trabalho de ativistas e profissionais de segurança, por exemplo. O Tor é utilizado por milhares de pessoas todos os dias, e produções como o documentário que trouxe à tona as revelações de Edward Snowden não seria possível sem o anonimato.
Pensando nisso, os pesquisadores do MIT encontraram um meio alternativo de enviar e receber dados anonimamente. Enquanto você utiliza o Vuvuzela, suas mensagens serão enviadas com um punhado de "barulho" que esconderá seus dados, localização e o conteúdo das mensagens. Para entender a lógica dos sistema, basta imaginar um estádio de futebol cheio de pessoas torcendo e tocando vuvuzelas - seria possível discernir as vozes e o conteúdo da fala de alguém que não esteja gritando no seu ouvido?
A diferença entre a abordagem do Vuvuzela é que enquanto ele mistura ruídos na comunicação, o Tor espalha a conexão entre diversos servidores (nós) ao redor do mundo antes de chegar ao destino. De acordo com Nickolai Zeldovich, professor de ciência da computação e engenharia, cujo grupo desenvolveu o novo sistema, é possível que esses servidores utilizados pelo famoso software sejam monitorados pelos censuradores.
O Tor opera sob a suposição de que não há um adversário global que está prestando atenção em cada link único no mundo. Talvez hoje em dia isso não seja algo bom se presumir. O Tor também pressupõe que nenhum único vilão controla um grande número de nós no seu sistema. Agora também estamos pensando, talvez há pessoas que podem comprometer a metade de seus servidores.
O Vuvuzela é um sistema de entrega, em que um usuário deixa uma mensagem para outro em um local pré-definido onde o outro usuário pode recupera-la. Mas ele adiciona diversas camadas de ruídos para cobrir os rastros dos usuários, assim, mesmo que um invasor consiga entrar em um ou dois dos servidores utilizados, ele não poderá discernir qual dos muitos conteúdos faz parte da mensagem em si, ou mesmo se qualquer uma das mensagens chegando dentro da mesma janela de tempo acabou no mesmo destino.
No entanto, a tecnologia ainda enfrenta seus desafios, e um dos principais é a latência. Unir as mensagens com um monte de ruído aumenta significativamente a quantidade de dados que precisam ser transferidos entre os servidores, e isso torna a comunicação mais lenta. Michael Walfish, professor associado de ciência da computação na Universidade de Nova York, destaca que há grandes limitações, mas afirma que o Vuvuzela tem potencial para algo no futuro.
O mecanismo que [os pesquisadores do MIT] usam para esconder os padrões de comunicação é um aplicativo muito interessante e perspicaz de privacidade diferencial. Privacidade diferencial é uma teoria muito profunda e sofisticada. A observação que você pode usar privacidade diferencial para resolver o seu problema, e a maneira que eles usam, é a coisa mais legal sobre o trabalho. O resultado é um sistema que não está pronto para implantação amanhã, mas ainda assim, dentro desta categoria de sistemas acadêmicos Tor-inspirado, tem os melhores resultados até agora. Tem grandes limitações, mas é excitante, e abre a porta para algo potencialmente derivado num futuro não muito distante.
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