
Economia e mercado 24 Abr
24 de abril de 2025 14
A Motorola realizou um grande evento em Nova York na manhã desta quinta-feira (24), onde conhecemos vários celulares das linhas Edge 60 e Razr 60, além de acessórios para compor o ecossistema da marca. Durante o evento, também tivemos participação da Qualcomm, parceira da Motorola no chip presente no Razr 60 Ultra, e aproveitamos a oportunidade para conversar com Fiore Mangone, Diretor Sênior de desenvolvimento de negócios e vendas na Qualcomm.
Em conversa com nosso Editor-Chefe Wesley Moraes, Mangone falou sobre o foco da empresa em chips premium, possibilidade de levar os elogiados núcleos Oryon para a linha Snapdragon 7, tensão comercial entre EUA e China, possibilidade de uso de outros parceiros na fabricação dos próximos Snapdragon 8 Elite, fim dos investimentos em chips 4G e muito mais. Confira todos os detalhes da entrevista abaixo.
TC: A Qualcomm é líder global quando falamos de chips premium, algo que deve se manter com tudo o que temos visto de positivo sobre o 8 Elite, mas vem perdendo espaço nas linhas intermediárias e de entrada para a MediaTek. Como equilibrar esse jogo?
Qualcomm: Você capturou bem, a estratégia da Qualcomm vem sendo há algum tempo focar em linhas premium, por isso o lançamento de novos modelos de chipset tanto para o mundo de smartphones — que ainda continua sendo o carro chefe da empresa — e agora com a diversificação para outras linhas de negócio como computadores, como carros, IoT.
Então a empresa atua em todos os segmentos. Na verdade, você pegar o nosso portfólio de Snapdragon, por exemplo, que é a família de processadores para smartphones, a gente tem desde a linha 8, passando para a linha 7, 6 até a 4. É claro que a competição é forte, né? A gente percebe isso no mercado e a Qualcomm vem trazendo novos chipsets para competir também nos tiers mais baixos, para tentar realmente equilibrar e ganhar mais market share.
Mas parte dessa estratégia realmente é atuar num segmento mais premium e high, que é onde você tem, inclusive, mais margens para poder investir em outras linhas de negócio. Outra parte importante da estratégia da empresa é a diversificação, né? Então nos últimos anos você vê o crescimento da receita da empresa em outras linhas de negócios, não esquecendo, porque ainda continua sendo a principal hora de negócios da empresa, que é smartphone, mas investindo fortemente em outras categorias. As categorias automobilísticas, por exemplo, já deram um resultado muito importante para a empresa. Nos últimos anos a gente vem investindo muito em compute também, a parte para computadores.
Recentemente com o anúncio da nova linha Snapdragon X para computadores, a gente vê que vários produtos foram lançados por todos os grandes fabricantes de computadores focados principalmente na parte de inteligência artificial. E vai além disso, né? Então, uma das áreas de grande investimento agora é a parte de IoT. Porque o IoT, ele é muito fragmentado, mas você tem oportunidade em todas as áreas.
Então a gente vê que você pode aplicar IoT desde empresas de utilities para facilitar a coleta de informações de medidores de água, de eletricidade ou até em qualquer tipo de sensor. Aqui mesmo a gente pode ter uma série de aplicações de IoT, vai depender muito daquilo que as empresas veem como oportunidade de negócio.
Então a empresa está realmente diversificando as linhas de negócio e também, voltando à sua pergunta original, investindo em novos chipsets para angariar ainda mais market share, mas sempre pensando na questão da margem, de ser alguma coisa economicamente viável para a empresa.
E aí você vê, né, principalmente aqui com o anúncio que a Motorola fez, como AI permeia, né, essas diferentes plataformas. A gente tá falando muito de AI para smartphones, certamente muito para computadores que é onde né, primeiro se falou disso, mas vai ser interessante porque essas outras linhas de negócios, os carros inteligentes, acessórios que combinam o AI ou que fazem uso do AI para ajudar na experiência, no bom uso pelo consumidor.
Você pensa no earbud que foi apresentado, você não precisa necessariamente digitar o que você está procurando, você simplesmente fala através dele e aí você tem informação, inclusive, ditada para você pela própria IA. Então, realmente é um mundo bem interessante aí. Muita novidade.
TC: Podemos esperar pelos núcleos Oryon chegando na linha Snapdragon 7 para oferecer um diferencial mais robusto aos intermediários premium?
Qualcomm: Eventualmente sim. Na verdade, no mercado a estratégia é você lançar as novas funcionalidades, novos recursos, na linha mais premium, na linha mais alta, e depois isso vai ao longo do tempo cascateando para os tiers mais baixos.
Então, eventualmente sim, né? Esse foi um dos grandes lançamentos lá no Havaí, quando a gente lançou a nova linha de chipsets para computadores e agora com o 8 Elite que é uma derivada, na verdade, né? A mesma CPU Oryon também faz parte do Snapdragon 8 Elite. Então, a estratégia sim é eventualmente a gente levar essa mesma plataforma para outros tiers.
TC: Como todo esse cenário econômico confuso dos últimos meses pela guerra comercial entre China e EUA impactou a Qualcomm? A fabricação no Brasil pode ajudar a burlar as taxas do Trump?
Qualcomm: Essa questão do aumento de tarifas, que as pessoas têm chamado de tariff war, essa guerra entre Estados Unidos e China principalmente, ela, no momento, não impacta a Qualcomm porque os chipsets não estão inclusos nessa esse aumento de tarifas. Claro que a gente vem monitorando isso com cuidado para saber se existe algum impacto.
E eu acho que isso sim pode ajudar outros mercados, inclusive o Brasil, a encontrarem mais oportunidades de fabricação local. Isso já é uma necessidade, quando a gente olha para as empresas que querem vender no Brasil, porque você tem um incentivo, inclusive do governo, para fabricação local, processo produtivo básico. Então isso já é uma realidade, mas com certeza isso abre com outras oportunidades, porque não até mesmo de exportação.
Eu estou nessa indústria há 30 anos e durante muito tempo o Brasil exportava celulares, os feature phones, para outros mercados da América Latina e até para outros mercados. Aí com a competitividade principalmente da China e alguns outros países asiáticos ficou inviável essa exportação e aí a fabricação local era puramente para o mercado nacional. Agora com essa questão toda de discussão de tarifas, por que não, né?
Abre-se oportunidade para outros mercados, não só Brasil. A gente vê que tem muitas empresas já fabricando fora de Taiwan, né? Buscando Vietnã e outros mercados na Ásia, então realmente isso abre uma oportunidade para o Brasil, oportunidade de crescimento na fabricação.
A gente não tem uma fábrica, então a gente usa empresas que fabricam, principalmente aí na Coreia e em Taiwan. Mas a gente sempre apoia os nossos parceiros, os fabricantes, e para eles sim é uma grande oportunidade de diversificação.
TC: Ainda hoje vemos muitos celulares sendo lançados com modem apenas 4G na faixa de entrada, algo que algumas rivais como MediaTek e Unisoc têm aproveitado para aumentar seu market share, especialmente em mercados como Brasil e Índia. O último chip 4G lançado pela Qualcomm foi o Snapdragon 6s Gen 1, que é basicamente um rebrand do Snapdragon 662 lançado lá em 2020. Não é uma oportunidade perdida investir em algo mais moderno nessa faixa? Ou a Qualcomm aposta tanto no 5G que não vê mais sentido em investir no 4G?
Qualcomm: É, investir no 4G não faz mais sentido, né? A gente sabe que ainda existe uma demanda de mercado, e isso tem a ver inclusive com a chegada do 5G, a expansão do 5G. Então, a gente vê que o cronograma de atendimento das metas que foram estabelecidas, no caso do Brasil, as operadoras estão até um pouco à frente do que foi estabelecido, mas ainda tem muita coisa para fazer.
Tem muito mercado para ser coberto pelo 5G. Então, por isso faz sentido em algumas áreas que você não tem ainda a chegada do 5G ou que consumidores buscando aparelhos 4G. É uma tendência, assim, não tem volta, né? Ou seja, o consumidor em algum momento vai acabar optando por um aparelho 5G, porque os benefícios são muito maiores.
Em termos não só de throughput mas de benefício inclusive do próprio aparelho que fica mais moderno em relação, por exemplo, a processamento. Você não vai ter um aparelho com o 4G com um chip que tenha processamento de um novo com um chip 5G. Então, para a Qualcomm realmente a tendência é a migração para o 5G, a velocidade vai depender de cada mercado onde você tem essa cobertura já do 5G chegando e o Brasil é um país muito grande.
Então, assim, tem os desafios de levar a tecnologia, a gente vê quantos anos nós ficamos sem até o 4G em algumas cidades, né? Porque realmente é um desafio para as operadoras chegarem a cobrir. A gente sabe que uma diferença de 50 a 100 reais no modelo, que é 5G ou 4G, faz a pessoa escolher pelo modelo mais barato. E isso também é um ponto importante.
A escala global do 5G vai acabar reduzindo esse gap, essa diferença entre aparelhos 5G e 4G, porque se você olhar para o mercado mundial, principalmente os mercados mais maduros, não existe mais 4G, né? Então, claro, existe uma oportunidade para mercados em desenvolvimento onde, como você disse, depende, por conta da questão econômica, as pessoas buscarem aparelhos mais acessíveis.
Mas a escala do 5G é tão maior, né? Do que a do 4G que esse gap essa a diferença vai diminuir ou ficar praticamente imperceptível. É claro que existe uma diferença porque você tem uma tecnologia mais moderna, você tem mais recursos no aparelho, mas no momento em que esse gap da tecnologia em si for equalizado, as outras características é que vão se sobressair.
Quando eu digo outras características são: ah, o display, a câmera que tá lá dentro do aparelho. E aí a diversidade que a gente tem hoje nos mercados, é muito grande. Então, você pode escolher desde um aparelho de entrada até um aparelho super sofisticado e as capacidades, as features que estão dentro dele é que vão determinar o custo efetivo do aparelho.
O mercado já tá indo muito para o 5.5G, né, que é o 5G Advanced. Isso a gente já tem definido pelo 3GPP, e a Qualcomm participou ativamente da definição. O que é o 5.5G? Quais são as funcionalidades que ele traz de novo? E a gente já vê os mercados mais avançados caminhando para essa nova tecnologia. Inclusive, o Brasil deu um passo importante lá atrás quando foi definido que o Brasil deveria começar já com o 5G Standalone, né? Que é o famoso 5G puro. Por quê?
Porque o 5G Standalone é a base para o 5G Advanced. Não existe 5G Advanced no NSA (não-Standalone). Então a gente tem um passo importante, claro que agora a tendência é que isso comece a massificar, ainda não é massivo, mas vai acontecer. E já tem muita gente falando do 6G, mas o 6G é uma outra história, vamos deixar para daqui alguns anos.
TC: O Snapdragon 8 Elite é fabricado em processo de 3 nm, sendo um dos motivos apontados para a ótima eficiência energética do chip. A grande empresa capaz de fabricar em larga escala nessa proporção atualmente é a TSMC, que se vê no olho do furacão com as tensões geopolíticas na China. A Qualcomm busca alternativas para seguir entregando chips tão avançados caso a guerra por lá escale? Talvez voltando a usar chips feitos pela Samsung ou mesmo pela Intel com o 18A que parece que finalmente vai sair?
Qualcomm: Então, a Qualcomm sempre tem opções, né? A gente tem, é claro, a TSMC que é um dos grandes, o maior fabricante de processadores chipsets no mundo, mas dependendo da linha de produtos, a gente sempre tenta ter uma segunda, o que a gente chama de second source ou às vezes até third source, né, opções. A questão da tecnologia, como você falou, três nanômetros hoje realmente a TSMC é mais avançada, mas a gente tá sempre monitorando isso e buscando alternativas.
Nós temos outros parceiros, você mencionou alguns, Samsung, Intel. Então, por que não, é uma possibilidade, né? Mas, a Qualcomm sempre tenta estar trabalhando com pelo menos duas forças, e vai depender realmente quão avançado o fabricante, o parceiro, está para que essa tecnologia possa ser aproveitada em larga escala.
TC: Falando sobre o Brasil, especificamente, temos visto a chegada de várias marcas novas no mercado, como a vivo (jovi), a Oppo, a Honor... Como a Qualcomm espera aproveitar esse cenário para ampliar ainda mais sua relevância no país? Podemos esperar por campanhas de marketing mais fortes envolvendo os Snapdragon Insiders com produtos dessas marcas?
Qualcomm: São marcas super importantes, quando a gente olha para o mercado global, elas já estão presentes há muito tempo. No Brasil, pela questão da fabricação local, talvez, né, e por ser um mercado que já vinha há muito tempo praticamente dominado por três marcas, elas elas acabaram demorando para entrar no mercado brasileiro, mas se você olha para a América Latina, essas marcas já estavam presentes em maior ou menor escala, dependendo do mercado.
Então, ficamos muito felizes que outras marcas estejam entrando no mercado brasileiro, né? Apostando inclusive na fabricação local, isso é importante, né? Não só pela questão de trazer a tecnologia, baratear o custo para o consumidor brasileiro, mas inclusive para geração de empregos no país. Então, várias dessas marcas, todas na verdade, têm projetos que usam dispositivos que usam Snapdragon, usam nossos produtos. Então, a gente fica super feliz e orgulhoso de ver esses produtos chegando no mercado.
Em relação a campanhas, vai depender realmente da estratégia de cada empresa. Normalmente nós estamos presentes quando eles fazem algum lançamento, algum anúncio novo. Então sempre a gente tenta de alguma forma colaborar. Depende muito da estratégia da empresa, como é que ela quer se posicionar, como é que ela quer comunicar, chegar ao mercado. Entendemos que como são marcas no Brasil novas, embora conhecidas globalmente, elas vão ter que fazer um investimento de posicionamento de marca e aí certamente a marca Snapdragon colabora com isso, já que é uma marca consolidada no Brasil e em outros mercados.
Então, a gente entende que o parceiro pode se beneficiar de usar a marca Snapdragon e nós como parceiros fornecedores, quer inclusive ajudar nessa divulgação. A estratégia de comunicação normalmente é do fabricante, da marca e a gente apoia da forma como eles entendem que é necessário, mas de novo a gente acha que por, pelo fato da marca Snapdragon já ser consolidada no mercado brasileiro, isso acaba de alguma forma ajudando o fabricante que está chegando a se posicionar.
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