Tech 25 Abr
Cientistas de Beijing, na China, estão realizando experimentos com uma cepa “mutante” do novo coronavírus que, em estudos iniciais com ratos, mostrou taxa de mortalidade de 100%. Para resultados mais precisos, os testes envolveram cobaias “humanizadas”, isto é, que foram modificadas para expressar uma proteína encontrada em seres humanos.
Roedores infectados com o patógeno “mutante”, chamado de “GX_P2V”, morreram em até oito dias. Os pesquisadores descobriram uma carga viral elevada no cérebro e nos olhos das cobaias, indicando que o vírus — assim como outras variantes do SARS-CoV-2 — pode afetar áreas do corpo hospedeiro que vão além do sistema respiratório.
De acordo com o estudo, realizado pela Universidade de Tecnologia Química de Pequim, o vírus foi descoberto na Malásia em 2017, antes da pandemia de Covid-19. O patógeno foi encontrado em pangolins, mamíferos que habitam os continentes asiático e africano.
Os pesquisadores clonaram o vírus e armazenaram cópias no laboratório de Pequim, onde ele possivelmente evoluiu. Não está claro quando o estudo — ainda não publicado oficialmente — foi conduzido, mas os pesquisadores citam a possibilidade de que o vírus tenha sofrido uma mutação que “aumenta sua capacidade de multiplicação”, o que o tornou mais letal.
Os sintomas apresentados pelos ratos utilizados nos experimentos foram olhos completamente esbranquiçados, rápida perda de peso rápida e fadiga. Após seis dias de infecção, a carga viral diminuiu significativamente nos pulmões, mas os cérebros dos animais encolheram, e havia níveis “excepcionalmente altos” de vírus em suas massas encefálicas.
Em nota, os envolvidos no teste afirmam que suas descobertas “ressaltam um risco de infecção pela cepa GX_P2V” em humanos, mas os dados ainda são escassos.
O estudo promovido pela universidade chinesa gerou debates e críticas por parte da comunidade científica. François Balloux, professor e especialista em doenças infecciosas da University College London, comentou sobre o assunto:
“Não vejo nada de vago interesse que possa ser aprendido ao infectar à força uma raça estranha de camundongos humanizados com um vírus aleatório. Por outro lado, eu podia ver como isso poderia dar errado”, disse o especialista em publicação no X (Twitter).
Richard Ebright, professor e químico da Universidade Rutgers em New Brunswick, nos Estados Unidos, acrescenta que o estudo ainda carece de informações detalhadas sobre as medidas de biossegurança empregadas na pesquisa.
“A ausência dessas informações levanta a possibilidade preocupante de que parte ou toda essa pesquisa, como a pesquisa em Wuhan entre 2016 e 2019 que provavelmente causou a pandemia de Covid-19, foi realizada de forma imprudente sem a contenção mínima de biossegurança para pesquisas com patógenos com potencial pandêmico”, disse.
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