Mark Zuckerberg cobre a câmera e o microfone do seu Mac com uma fita para não ser espionado. Provavelmente é porque ele sabe que na indústria da tecnologia essa é uma prática que pode até ser considerada comum. E, ironicamente, o próprio Facebook faz alguns tipos de "espionagem".

A nova descoberta sobre as práticas da rede social para "bisbilhotar" seus usuários veio por meio de relatório que mostra que ela está monitorando a localização de seu dispositivo móvel para sugerir amigos com base em sua localização.

Claro que, como na maioria dos recursos do Facebook, essa opção pode ser desabilitada. Então, caso você seja do tipo mais paranoico, poderá abrir o aplicativo, ir até as configurações e desmarcar essa permissão. Isso vale tanto no iPhone quanto Android.

Porém, vale lembrar que a facilidade de desabilitar a função ainda não significa que não há problema em recomendar amigos com base na localização. Isso porque o monitoramento detecta os lugares que você frequenta, o que poderia violar a sua privacidade. Principalmente para aqueles que não querem oferecer o seu perfil na rede social para qualquer pessoa que vê nesses lugares. Por exemplo, o Facebook pode sugerir seu perfil para uma pessoa em quem você não confia e que frequenta a mesma academia, bar ou local trabalho.

O problema maior é a clareza e transparência na comunicação com os usuários. O Facebook disse ao site Fusion que ele não recomenda amigos usando informações de localização.

Pessoas que você talvez conheça [nome que o Facebook dá às indicações de amigos] são pessoas no Facebook que você deve conhecer. Nós mostramos-lhe pessoas com base em amigos em comum, informações de trabalho e de educação, redes que você faz parte, contatos que você importou e muitos outros fatores.

Informação de localização por si só não indica que duas pessoas podem ser amigas. É por isso que a localização é apenas um dos fatores que usamos para sugerir pessoas que você pode conhecer.

Mas a história parece ser outra. O Fusion relata que uma pessoa compareceu em uma das reuniões para pais anônimos de adolescentes suicidas, apenas para ser mostrado a um dos pais na caixa de sugestões de amigos do Facebook, no dia seguinte. Os dois indivíduos não compartilham informações de contato, o que seria a maneira ideal do Facebook para conectá-los - e o principal meio que a empresa alega utilizar. A única ligação entre eles parece ter sido visitar o mesmo local. Porém, a sugestão ocorreu mesmo assim.

A pessoa que recebeu a sugestão inesperada de um desconhecido verificou o dispositivo e constatou que o Facebook tinha habilitado a permissão para acessar sempre a sua localização.

Aparentemente, essa experiência constatou que o Facebook não foi muito claro e específico quanto a utilização do monitoramento de localização para sugerir novos amigos. E, mais ainda, mostra o quão é falha a intenção de sugerir apenas pessoas que o usuário deve conhecer pessoalmente.

Estes dados de localização são altamente sensíveis e poderiam ter um impacto adverso para muitos usuários, especialmente porque o Facebook não deixa claro que essas informações podem - e são - usadas para recomendações de amigos. Receber convites de pessoas que sabem o lugar que o outro frequenta pode ser potencialmente perigoso para mulheres e crianças, por exemplo.