23 Junho 2017
O maior supercomputador da América Latina teve que ser desligado por falta de dinheiro para a conta de luz. Inaugurado em janeiro deste ano, o Santos Dumont, um dos quatro brasileiros na lista dos 500 maiores do mundo, custou R$ 60 milhões. Está instalado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e faz parte do Laboratório Nacional de Computação Científica. Entre suas tarefas estão pesquisas que envolvem o vírus da zika, mal de Alzheimer e o pré-sal. Todas estão paralisadas.
O Santos Dumont ocupa uma área de cerca de 380 metros quadrados e consome cerca de R$ 500 mil por mês em energia elétrica. O valor corresponde a cerca de 80% do laboratório, que esperava um reajuste no orçamento para conseguir manter o funcionamento. Porém, os seguidos cortes nos gastos, especialmente relacionados a ciência e tecnologia, impediram a continuidade do funcionamento da máquina.
No mês de maio, vimos que não havia a possibilidade de manter o computador ligado e tivemos a decisão de desligá-lo, diante da imprevisibilidade de chegada dos recursos para a energia elétrica", lamentou o diretor do LNCC, Augusto Gadelha, que ainda afirma ter seis pesquisas atrasadas, uma delas relacionadas ao vírus da zika, e outras 75 na fila.
A máquina é até um milhão de vezes mais rápida que um notebook comum, e levou cerca de três dias para identificar cadeiras de proteínas que espera-se poderem ser usadas em tratamentos de doenças como o Mal de Alzheimer.
E não são apenas as pesquisas que ficam comprometidas. A própria estrutura do supercomputador pode ser danificada pela falta de uso, além do pessoal envolvido, que estudou para o projeto. São milhões em investimentos que simplesmente serão perdidos caso a máquina não possa voltar à ativa.
É o reflexo e um exemplo gritante do que está acontecendo com a ciência e tecnologia no Brasil. É um descaso total. Foram investimentos vultosos que ocorreram e formação de pessoal de que demoraram muitos anos para se completar, mas que correm o risco de serem desperdiçados. O que acontece com o supercomputador é emblemático", declarou o presidente da academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich.
O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações afirmou estar a par da situação e garante estar em busca de uma solução para a falta de dinheiro para o laboratório junto ao Ministério do Planejamento. O computador é ligado ocasionalmente por algumas horas para evitar danos a sua estrutura.
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