26 Setembro 2017
Recentemente, O Facebook entrou em confronto direto com defensores do Marco Civil da internet. A razão foi o projeto Internet.org, que visa levar acesso à "web" para lugares menos favorecidos ao redor do mundo. No Brasil, os beneficiados são os moradores da comunidade de Heliópolis, em São Paulo. O problema, é que o acesso à "web", não é pleno, porque os usuários não poderão navegar por onde quiserem, mas apenas aos serviços que o projeto permitir. Ou seja, essencialmente o Facebook e alguns sites como Wikipedia.
O mesmo problema está acontecendo agora na Índia, quando um grupo de empresas de internet e tecnologia também lutou para acabar com a iniciativa sob alegação que ela feriria o princípio de neutralidade da rede. As polêmicas cercando a ideia se tornaram tão grandes que diversas corporações decidiram abandoná-lo como o Times Group, um gigante da mídia jornalística.
Marck Zuckerberg, o criador do Facebook, decidiu defender o projeto diante de tantos ataques:
"É sempre melhor ter alguma internet do que simplesmente não ter. Nós damos total suporte a ideia de neutralidade na rede, queremos manter a internet aberta. A neutralidade garante que operadoras não discriminem que sites terão privilégios ao receber determinados serviços. É uma parte essencial da rede e nós estamos comprometidos com essa ideia. Apesar disso, nosso projeto não apresenta conflitos com a neutralidade, é um esforço para colocar mais gente conectada. Estes dois princípios, a neutralidade e universalização da rede, podem e devem co-existir".
O problema que leva essa iniciativa a colidir com a neutralidade da rede é que a internet distribuída seria favorável a alguns serviços em detrimento de outros, liberando a prática do Zero Rating. Ou seja, não se trata de uma Internet livre com tratamento igualitário a todos os dados, mas apenas uma pequena parte interessante às empresas envolvidas.
Zero Rating é a prática de discriminar os pacotes transferidos pelo provedor de Internet, o que leva a alguns sites, serviços e aplicativos a sofrerem limitações, redução de velocidade ou até mesmo ter o acesso bloqueado a alguns usuários.
O dono do Facebook também alegou que o Internet.org não impede outros serviços de internet a operar nestes lugares, e que "argumentos em defesa da neutralidade da rede não deveriam sobrepor a necessidade que a população de baixa renda tem por internet. Eliminar programas que tragam mais pessoas para a esfera digital não vai melhorar a inclusão social, ou diminuir a desigualdade. Essa posição só vai nos privar de ouvir o que dois terços das pessoas do planeta têm a dizer."
Quando perguntado porque o projeto internet.org só oferece acesso para um número limitado de serviços, no lugar de conexão para a rede como um todo, Zuckeberg respondeu que o acesso completo e irrestrito seria muito caro. "As operadoras de internet gastam milhões de dólares para oferecer seus serviços de tráfego na web, se tudo que oferecêssemos fosse de graça essas empresas iriam à falência. Da forma como fazemos, isto é, um plano muito básico e reduzido gratuito, conseguimos alcançar nossos objetivos sem prejudicar ninguém".
Uma crítica a posição de Zuckerberg
Primeiramente, é no mínimo chocante que o único argumento que o criador do Facebook tem para não implementar a internet gratuita e irrestrita é não atrapalhar os negócios de grandes corporações operadoras de telecomunicação. Um discurso que segue na direção contrária a ideia de ajudar essas comunidades em sua inclusão digital, que ele tanto parece pregar.
O segundo ponto é que existe uma distorção grande na forma como o Facebook está lendo este projeto. A rede social não é um serviço que o senhor Zuckerberg nos oferece de maneira gratuita, muito pelo contrário, para cada usuário utilizando o Facebook a empresa ganha muito dinheiro em propaganda e serviços em cima dele.
Quando o Facebook distribui uma internet gratuita que tem como princípio só permitir que o usuário entre no próprio Facebook (e sites afiliados) ele está fazendo apenas propaganda de si mesmo e aumentando os números de sua receita. São as pessoas que acessam esse serviço que geram dinheiro para a rede social e não o contrário.
Fora isso, essa iniciativa também pode criar uma geração inteira de usuários que não sabe diferenciar o que é estar na internet do uso do Facebook, atrapalhando e limitando severamente o contato dessas pessoas com o mundo virtual.
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