Atualização (03/09/2021) - LR

Em agosto a Apple anunciou que poderia adicionar no iOS 15 uma ferramenta capaz de escanear as imagens armazenadas nos dispositivos dos usuários a fim de identificar conteúdo contendo abuso sexual infantil, no entanto essa funcionalidade gerou grande polêmica e foi duramente criticada por especialistas, incluindo o ex-agente da CIA — agência de inteligência dos EUA — Edward Snowden.

A repercussão negativa e acusações sobre uma possível violação de privacidade, a empresa revelou que irá adiar o lançamento desse recurso, que, de acordo com a gigante de Cupertino, passará por "melhorias" antes de ser oficializado, não informando muitos detalhes sobre as alterações que pretende realizar.

Por ora ainda não sabemos se a pressão negativa fará com que a desenvolvedora cancele permanentemente a chegada dessa ferramenta, porém é esperado mais detalhes assim que a próxima versão do iOS for lançada, evento que está previsto para acontecer ainda neste mês junto da apresentação do iPhone 13.

Texto original (26/08/2021)

Recurso da Apple para detectar pedofilia no iPhone será um “desastre”, diz ex-funcionário da CIA

A Apple desenvolveu um polêmico recurso que escaneará as imagens em seus dispositivos em busca de material com abuso sexual infantil. Originalmente, essa ferramenta opera no iCloud desde 2019, mas ainda deve ser lançado no iOS 15, nova versão do sistema operacional prevista para chegar em setembro com o iPhone 13.

Edward Snowden, analista de sistemas e ex-administrador de sistemas da CIA nos Estados Unidos, citou em seu boletim periódico todos os problemas de privacidade e possível interferência do governo que a nova funcionalidade deve possibilitar.

Em seu artigo, intitulado de “The All-Seeing ‘i’” — trocadilho para “o olho que tudo vê”, substituindo a palavra “eye” (olho) por “i” do iPhone — o especialista trata esse recurso, entre outros termos, como “uma tragédia” e um “desastre em andamento”.

Ainda sem um nome oficial — provavelmente em função da repercussão negativa que poderia adquirir — esse recurso executará um algoritmo que reconhece o possível conteúdo ilegal e reportará às autoridades após ser analisado por um moderador.

É importante ressaltar que, ao contrário dos sistemas existentes no Mail e no iCloud, a ferramenta é inteiramente executada no dispositivo. Isso, segundo Edward Snowden, "eliminará a divisão de limites que dividem quais dispositivos funcionam para o usuário e quais dispositivos funcionam para eles”.

Estamos testemunhando a construção de um “olho que tudo vê”, sob cuja égide, cada iPhone vai procurar por tudo que a Apple quer, ou para o que a Apple for direcionada a querer.

Snowden acusa a empresa de se preocupar mais com sua própria imagem do que com a proteção de crianças. No mesmo raciocínio, embora cite continuamente a criptografia de ponta-a-ponta no iCloud, a implementação do sistema não importa “porque os aparelhos já terão a capacidade de vigilância integrada”.

Há uma preocupação em torno do envolvimento dos governos nesse debate. O especialista teme que as autoridades abusem do sistema e façam com que a companhia forneça os dados sob pressão da administração nacional.

Em resposta, a Apple afirmou em um FAQ oficial que não irá ceder às exigências do governo para expandir o sistema além de seu real objetivo — detectar pedofilia.

A iniciativa já enfrenta reação de quase cem entidades mundiais — incluindo o Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS) do Brasil — que se opõem à implementação do recurso. Os signatários afirmam que a empresa implementando uma ameaça à liberdade de expressão.