Recentemente, o boxeador profissional Ryan Garcia foi pego nos exames antidoping, e pode ver a sua vitória contra Devin Haney, em abril, contestada pelos órgãos oficiais do esporte. Garcia, por meses antes da luta e continuamente depois dela, postava mensagens crípticas e “trollagens” aparentemente desconexas em seus perfis oficiais no Instagram e Twitter.

A situação do jovem pugilista de 25 anos é apenas mais uma que exemplifica o impacto das redes sociais na saúde mental de atletas de todos os níveis e esportes. Um novo estudo, publicado no Jornal da USP, aponta justamente o uso prolongado das plataformas do tipo na mente dos esportistas – e a conclusão, como já era de se esperar, foi a mais óbvia: passar tempo demais no Instagram, Twitter ou outra esfera do tipo pode ser bem prejudicial.

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Em mais uma interpretação da clássica expressão “a diferença entre remédio e veneno é a dose”, o estudo da Universidade de São Paulo indica que as redes sociais podem ser uma ferramenta de auxílio para que atletas tenham um desempenho otimizado, mas também podem ser parte do que os leva à ruína – a chave está em “quanto uso” das plataformas eles fazem.

“Nas mídias sociais, as redes sociais hoje trazem um feedback imediato e não há um filtro. Esses atletas podem sofrem com exposições que impactam negativamente a sua autoestima”, avalia o professor Hugo Tourinho Filho, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP.

O especialista indica que o retorno imediato de opiniões e críticas pode levar ao desenvolvimento de sintomas de depressão, usando como exemplo os jogadores de futebol Luiz Gustavo, do São Paulo; e Karim Benzema, do Al-Ittihad – os dois “boleiros” excluíram todos os seus perfis de todas as plataformas sociais devido a críticas e ameaças por parte de seus torcedores.

Obviamente, a depressão e o estado mental prejudicado se refletem em campo, fazendo com que o jogador performe de maneira mediana ou até menos que isso. Entretanto, Tourinho Filho diz que a “culpa” não é só das redes e, em muitos casos, o jogador é que é o problema: “o uso das redes sociais vem prejudicando o sono dos atletas, e são vários os treinadores que, atualmente, reclamam dessa dependência dos aplicativos, inclusive de madrugada, o que prejudica o sono e, consequentemente a recuperação."

Entretanto, a moderação correta de uso das plataformas sociais pode levar ao quadro oposto, onde o atleta mais feliz consegue estabelecer um desempenho mais dominante em sua modalidade. Tourinho Filho cita como exemplo a ampliação da fama pública de um jogador que, ao promover a sua imagem de forma benéfica, amplia a sua presença online, consegue mais acordos publicitários, maior estabilidade financeira e carinho de fãs.

“Saber fazer o controle do tempo de uso e, principalmente, usar as redes é muito importante para o atleta, desde que usadas de forma muito positiva, tanto para auxiliar no seu desempenho como na sua divulgação e, consequentemente, na busca por patrocinadores”, afirma o professor.