Curiosidade 10 Mai
No início do mês, foi noticiado que uma das empresas mais tradicionais no mundo dos instrumentos musicais teria decretado “falência”. A Gibson anunciou que diminuirá suas atuações no mercado, a fim de reduzir as dificuldades econômicas. Alguns dos fatores que influenciaram a decisão estariam diretamente ligados a questões tecnológicas.
Marca usada por muitos artistas do mundo musical, como Slash, Santana e B.B. King, a Gibson quis ampliar seus negócios para além da fabricação de instrumentos e adquiriu fabricantes de software de produção musical e eletrônicos, como fones de ouvido, caixas de som e outros equipamentos para todas as categorias de músicos.
Mas como isso teria afetado as operações da empresa? Entenda melhor o caso a seguir:
Um dos principais pontos a se destacar é que, apesar de as notícias darem conta de ter decretado falência, a companhia não encerrará por completo as atividades – diferente do que conhecemos sobre a medida.
A Gibson chegou a desmentir a informação sobre a suposta “falência” e esclareceu que, na verdade, houve um pedido de reorganização dentro do Capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos – algo semelhante ao pedido de recuperação judicial no Brasil, como foi solicitado pela operadora Oi. Desta forma, apesar de haver uma diminuição nas operações, a empresa continuará a comercializar suas guitarras:
Rest assured, there will be no changes to our warranty and return policies and we are still making, selling and shipping the world’s most iconic guitars. Our relationship with you is important to us and we’re excited for what the future holds. #onlyagibsonisgoodenough
— Gibson (@gibsonguitar) 2 de maio de 2018
“Ontem a Gibson entrou com um pedido de reorganização dentro do Capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos. Isso NÃO significa que a Gibson irá fechar as portas. Significa que estamos reorganizando os nossos negócios para nos concentrarmos nas guitarras e instrumentos musicais, nos tornando uma empresa mais forte durante o processo.
Podem ficar tranquilos, não haverá mudanças nas nossas garantias e políticas de devolução de produtos e ainda estamos fabricando, vendendo e despachando as guitarras mais icônicas do mundo. Nosso relacionamento com vocês é importante para nós e estamos empolgados com o que o futuro nos reserva.”
Como já foi dito nesta coluna, a fabricante de guitarras não se contentou em ficar somente no desenvolvimento dos instrumentos e, na última década, decidiu comprar várias empresas especializadas em assuntos de tecnologia. Além disso, transformou seu nome de Gibson Guitar Corp. para Gibson Brands Inc..
Confira a seguir todas as companhias tecnológicas adquiridas, os anos da compra e seus respectivos setores de atuação:
- 2011: Stanton Group (Cerwin Veja, KRK Systems e Stanton DJ) – fones de ouvido, caixas de som e equipamentos para DJ;
- 2012: Onkyo Corporation (em conjunto com a Pioneer) – placas de áudio para PCs, home theater e outros equipamentos de som;
- 2013: TEAC Corporation: produtos eletrônicos de reprodução e gravação de áudio, como os da marca TASCAM;
- 2013: Cakewalk: softwares de produção musical, como o Sonar;
- 2014: Royal Philips: setor de eletrônicos de consumo.
A aquisição de tantas marcas e ações no mundo tech fizeram com que a empresa mergulhasse em dívidas com uma quantia aproximada de US$ 500 milhões, sem o retorno financeiro devido à queda nas vendas dessas empresas.
A fabricante de softwares para computadores Cakewalk foi a primeira a ser abandonada pela Gibson. Em novembro do ano passado, a proprietária anunciou o fim de produtos da empresa, como Sonar, Rapture Pro & Z2TA+2, e a linha Music Creator. Leia o comunicado na época:
“A Gibson Brands anunciou hoje que está deixando de desenvolver e produzir ativamente os produtos da marca Cakewalk. A decisão foi tomada para melhor alinhar-se com a estratégia de aquisição da empresa, fortemente focada no crescimento do negócio global de áudio e eletrônica de consumo, sob a marca Philips.”
Outro fator de influência na crise financeira da empresa foi a pirataria de softwares. Além de ter impedido que a Gibson vendesse mais os produtos inclusos com a compra da Cakewalk, a possibilidade de baixar programas que substituam uma produção musical analógica de forma ilegal também reduz as vendas de guitarras em si.
Desta forma, o produtor não precisa de instrumentos físicos para constituir uma música. O software por si só já conta com funcionalidades de simulação de instrumentos. Ao site UOL, o músico Lucas Dimitri explica as vantagens do software:
“Para quem começa, o software é mais intuitivo e instigante. É bem mais interessante do que comprar um instrumento, mas é possível que alguém me queime por falar isso.”
Lucas Dimitri
Músico produtor do Formaflúida
A parcela afetada no pedido de reorganização da Gibson é exatamente a referente às aquisições tecnológicas da empresa. A organização diminuirá a sua atuação na área de eletrônicos para o público geral, ou seja, serão reduzidas as fabricações de fones, caixas de som e mesas para músicos profissionais, amadores e engenheiros. A marca continuará a vender guitarras pelo mundo.
“Este processo será praticamente invisível para os clientes, que podem continuar confiando na Gibson para fornecer produtos e atendimento incomparáveis.”
Henry Juszkiewicz
Presidente-executivo da Gibson
O plano para a sua reestruturação ainda prevê a troca de dívidas por participação em ações da marca para credores da empresa.
Na sua visão, qual a parcela de responsabilidade a tecnologia teve na quebra da Gibson? Compartilhe conosco a sua opinião!
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