30 Julho 2015
Nossa privacidade está sendo atacada em várias frentes (...) Algumas das empresas mais importantes e bem sucedidas construíram seus negócios acalmando seus clientes em complacência a respeito de suas informações pessoais. Eles estão devorando tudo o que podem aprender sobre você e tentando ganhar dinheiro com isso. Nós achamos isso errado. Esse não é o tipo de empresa que a Apple quer ser.
O mundo das empresas de tecnologia pode ser surpreendentemente cheio de reviravoltas interessantes - e nem sempre positivas. Tim Cook, CEO da Apple, já é conhecido pelo seu hábito de alfinetar a Google em seus discursos sobre privacidade, como essa citação acima, de uma reunião que ocorreu mês passado em Washington, e por sempre afirmar que o usuário da Apple não é um produto. A rival de Mountain View, por sua vez, é criticada por diversas frentes pela sua postura de usar informações pessoais dos usuários para ganhar dinheiro.
Agora, enquanto a Google toma iniciativas para que possamos determinar o que a Google pode usar ou não de nossas informações através do My Account, a Apple registra uma patente no mínimo contraditória a seus discursos. Trata-se de um sistema capaz de enviar publicidade de acordo com a quantidade de dinheiro que as pessoas tem.
O escritório norte-americano de patentes garantiu à Maçã o registro da patente hoje, mas ao que parece ele tem sido trabalhado há algum tempo. De acordo com a patente, a nova criação da Apple é projetada para "analisar o crédito disponível do usuário, a fim de avaliar a probabilidade de um usuário ser capaz de comprar bens e/ou serviços anunciados." Por que tanta curiosidade? Óbvio, "uma vantagem de tal publicidade segmentada é que apenas a publicidade de produtos e serviços que determinados usuários podem pagar, são entregues a esses usuários." Assim, anunciantes não perdem dinheiro em anúncios sendo exibidos à pessoas que não podem pagar por seus produtos e serviços. Ótimo para as corporações.
É claro que podemos esperar que a companhia não faça nada com essa criação, o que não seria surpreendente no mundo dos registros de patentes. Pode ser até possível que o registro vise impedir que outra companhia utilize a invenção. Porém, se as expectativas menos otimistas se concretizarem, os usuários iOS estarão diante de um cenário mais orwelliano do que outrora.
Porém, em defesa da Apple, sabemos que a companhia tem preparado o terreno do iOS para que usuários possam armazenar seus dados no dispositivo sem que eles sejam enviados para os servidores da companhia ou sem mostrar as informações para os anunciantes. O novo sistema operacional de Cupertino poderá até mesmo oferecer os recursos do Google Now apenas analisando os dados localmente, sem que sejam enviados à nuvem.
É possível que a Apple consiga utilizar a nova patente unificada a essas novas tecnologias, gerando renda sem obter informações dos seus usuários. Porém, ela se encontrará em uma estreita linha divisória entre a proteção de dados e a prática que tanto critica de fazer dos usuários um produto para os anunciantes. Em outras palavras, espiar nossas contas bancárias, mesmo de modo criptografado, a colocará em uma área cinzenta para ganhar mais dinheiro com nossas informações, e nem todos se sentirão confortáveis com isso.
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