A vacinação contra o coronavírus no Brasil ainda avança a passos curtos em diversas localidades, situação que inclusive tem levado muitos cidadãos a buscarem imunização em outros estados — como Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão, onde boa parte da população adulta já está imune.

Agora, um novo problema se soma ao já dificultoso Plano Nacional de Imunização (PNI). Segundo reportagem investigativa da Folha de S. Paulo, há nada menos que 140 mil doses importadas da vacina AstraZeneca, a mais utilizada dentre os principais imunizantes no Brasil, vencidas no país.

Desse total, 26 mil foram aplicadas após o vencimento, especialmente no Paraná e em São Paulo; outras 114 mil seguem no sistema para serem aplicadas.

Os dados vêm a partir de registros do próprio Ministério da Saúde acerca das doses adquiridas. Até o dia 19 de junho, o imunizante com data de validade expirada foi utilizado em 1.532 municípios brasileiros.

Segundo a reportagem, o Paraná foi o estado que mais aplicou a vacina AstraZeneca expirada: foram 4.060 pessoas. Depois vem São Paulo, com 3.648, e o Pará, com 3.391 aplicações.

Todas as doses vencidas do imunizante AstraZeneca fazem parte de oito lotes importados ou adquiridos por consórcio. Um deles venceu no dia 29 de março, o que venceu há menos tempo expirou no dia 04 de junho.

A maioria (70%) das doses aplicadas depois da validade é de um mesmo lote do Instituto Serum, identificado como "4120Z005". O bloco venceu em 14 de abril, mas continuou sendo aplicado depois dessa data pelo país. Confira abaixo todos os lotes vencidos.

⚠️As vacinas vencidas são de oito lotes. Se você recebeu Astrazeneca, confira na sua carteira de vacinação o n. do lote e veja se recebeu a dose depois do vencimento

🔴 Quem tomou vacina vencida tem de procurar uma unidade de saúde p/ orientações. A dose é considerada inválida pic.twitter.com/fsxTOKbC8B

— Sabine Boettger Righetti 💉 #VACINAJÁ (@binerighetti) July 2, 2021

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou cerca de 4.000 doses ministradas após validade. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Belém informou que nenhuma dose de imunizante vencido foi aplicada na cidade.

A Secretaria de Saúde de Maringá, no Paraná, uma das cidades que mais aplicaram doses vencidas de acordo com a reportagem, afirmou em nota que também não ministrou o imunizante expirado:

O lançamento no Sistema Conect SUS está diferente do dia da aplicação da dose. Isso porque, no começo da vacinação, a transferência de dados demorava a chegar no Ministério da Saúde, levando até dois meses. Portanto, os lotes elencados são do início da vacinação e foram aplicados antes da data do vencimento. Concluindo, não houve vacinação de doses vencidas em Maringá e sim erro no sistema do SUS.

As pessoas que tiverem recebido dose de um dos oito lotes vencidos precisarão procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento. É possível conferir o lote da vacina na carteira individual de vacinação.

Além disso, como a dose de vacina quando vencida é considerada inválida, os indivíduos que receberam a aplicação da AstraZeneca expirada precisarão tomar novamente o imunizante após 28 dias. Na prática, é como se a vacinação nunca tivesse ocorrido.

A validade das vacinas contra Covid-19 depende da tecnologia e dos insumos utilizados no desenvolvimento do imunizante. A AstraZeneca e a Pfizer duram até seis meses.

A Janssen, com validade original definida em três meses, agora pode ficar armazenada por até quatro meses e meio. A Coronavac tem duração de um ano — o primeiro lote dessa vacina utilizado no Brasil venceria somente em novembro.

Por nota, o Ministério da Saúde informou "que acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas Covid-19 recebidas e distribuídas" e que "as doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério.”

Já os estados afirmam que há um problema de integração dos dados entre municípios e o sistema federal, o que pode ter ocasionado a utilização das doses vencidas.